A prática da medicina precisa ampliar o foco para considerar não apenas os diagnósticos baseados em exames clínicos e laboratoriais, mas também o contexto em que o paciente está inserido e buscar compreender suas necessidades e prioridades. Este parece ser o caminho do cuidado e a grande tendência para o futuro, onde o que se espera é que o paciente seja, enfim, protagonista de seu próprio cuidado.
Esse conceito foi apresentado por Pedro Schestatsky, CEO da NEMO Neuromodulação e autor do best-seller “Medicina do Amanhã” em uma palestra no Congresso Nacional de Hospitais Privados – Conahp 2024, intitulada “Paciente do futuro: o protagonista da própria saúde”.
Essa dinâmica busca potencializar a influência do paciente em seu próprio tratamento, considerando que é ele quem precisa (e tem o poder de) mudar hábitos, adotar a prática de exercícios físicos pra valer, controlar a alimentação dando preferência para alimentos de verdade e mais saudáveis e cuidar da saúde emocional. Tudo isso a fim de buscar uma melhor qualidade de vida, se prevenir ou contribuir para um tratamento em andamento.
Já o papel do médico neste contexto passa por enxergar o paciente com outros olhos, considerando-o parte das tomadas de decisão. Isso passa por uma anamnese completa, no que está incluso ouvi-lo com atenção e levar em conta suas experiências, impressões e opiniões para definir as orientações que farão parte daquele tratamento.]
Mais saúde, menos hospital
Para Schestatsky é preciso passar a formar médicos para cuidar de pessoas, e não mais de doenças. E nisto está incluso criar cada vez mais condições de saúde para evitar hospitalizações.
Mas como alcançar este ideal? No Conahp, o especialista apresentou o que ele chama de “Medicina dos 5Ps” que diz que a medicina precisa ser:
- Preventiva: manter a saúde é mais efetivo do que tratar a doença;
- Preditiva: contar com os avanços tecnológicos para detectar possíveis problemas de saúde antes deles acontecerem e, assim, interceder de forma mais efetiva. Um exemplo é a medicina genética, que permite identificar possíveis diagnósticos antes dos sintomas aparecerem;
- Proativa: antecipando-se à doença, pode-se alcançar uma melhor qualidade de vida dos pacientes, e com custos menores;
- Personalizada: cada indivíduo é único e, portanto, cada paciente vai precisar de um cuidado específico;
- Parceira: o médico assume a posição de curador de dados de seus pacientes, ou seja, sai de cena a figura paternalista e entra a do parceiro, criando um relacionamento horizontalizado.
Exercícios, boa alimentação e bons pensamentos
Outro conceito apresentado por Schestatsky é o MAP, sigla para movimento, alimentação e pensamentos. A união de práticas relacionadas a estas três palavras pode melhorar substancialmente a saúde da população, e não se trata de nada muito elaborado.
Para colocar o corpo em movimento, basta caminhar. Segundo Schestatsky, se uma pessoa ultrapassar os 5 mil passos por dia (cerca de 4 km), ela deixa de ser sedentária e, ao atingir 10 mil passos ao dia, já será possível observar melhoras nas funções do intestino e da cognição. “Chegar aos 10 mil por dia teria que ser o norte de cada um de nós porque, assim, temos a possibilidade de ter uma prevenção efetiva da doença de Alzheimer e melhorar nossa flora intestinal, por exemplo”, afirma Schestatsky.
Outra atividade física sugerida pelo médico é a prancha, um exercício simples e eficaz que consiste em ficar com os cotovelos e a ponta dos pés apoiados no chão e o tronco elevado, se mantendo nesta posição o máximo de tempo possível. Segundo ele, esse exercício trabalha 90% dos músculos do corpo. “Com ela [a prancha], podemos evitar a sarcopenia, também conhecida como o Alzheimer do músculo”, diz.
Para se alimentar bem, Schestatsky recomenda seguir sete “pérolas” adaptadas da dieta mediterrânea, que são: beber muita água, cerca de dois litros por dia; se servir de pequenas porções; evitar o consumo de carboidratos nos extremos do dia (de manhã e à noite); consumir cerca de 500 gramas de verduras por dia; consumir gorduras boas, como azeite, ovos, castanhas, abacate, entre outras; consumir alimentos fermentados como kombucha, kefir, gengibre em conserva, beterraba fermentada, leites fermentados, entre outros; e fazer jejum à noite, sendo a última refeição feita três horas antes de dormir.
Já em relação aos pensamentos, Schestatsky defende práticas semelhantes à meditação para equilibrar o organismo. Em seu programa, a recomendação é que a pessoa comece praticando durante um minuto ao acordar ou antes de dormir, aplicando a respiração “cinco”: cinco segundos respirando e cinco segundos expirando, com o objetivo de chegar em sete minutos. De acordo com o médico, essa prática reduz a pressão arterial e os níveis de cortisol (hormônio do estresse), e aumenta em 30% a capacidade de oxigenação do sangue, segundo ele.
Esse pilar também inclui a manutenção do sono, o manejo de pensamentos tóxicos e até mesmo a qualidade dos relacionamentos. Para ele, estar bem consigo mesmo e lidar bem com as pessoas é tão importante para a saúde quanto ser magro ou não fumar.
Médico do futuro
A atividade dos médicos está sendo impactada desde já com o desenvolvimento das tecnologias, o que deve ser impulsionado ainda mais daqui pra frente. Schestatsky apresentou, durante sua palestra no Congresso, o conceito de big data humano, em que é possível fazer uma avaliação ampla do indivíduo, incluindo sequenciamento de DNA e RNA, mapeamento de proteínas (proteoma), células (metaboloma), entre outros.
Esses dados individuais trazem novas possibilidades de abordagens de tratamento e estratégias preventivas. A expectativa, segundo o especialista, é que eles sejam usados para guiar as decisões médicas para melhorar a saúde dos pacientes.
Enquanto o futuro está sendo desenhado, pacientes e médicos podem aproveitar para estreitar as relações e trocar informações que possam ajudar a traçar estratégias de cuidados com a saúde. Para Schestatsky, o tempo dedicado a isso vale a pena: cada minuto extra de consulta reduz em 16% a readmissão hospitalar, afirma o especialista. Ou seja, a tecnologia vai fazer com que o médico dedique menos tempo a funções burocráticas e tenha mais tempo para se dedicar ao paciente, diz.
E você, já contou para o seu médico como anda sua prática de exercícios físicos, sua alimentação e os pensamentos? Estaria disposto a mudar o estilo de vida com foco em mais saúde e prevenção? Como explicou Schestatsky, os conceitos amplos sobre a vida do paciente podem ajudar a prevenir doenças e evitar internações desnecessárias, mas precisam de um apoio ativo dos pacientes para darem certo.