A doença crônica afeta uma a cada dez mulheres brasileiras, pode provocar cólicas intensas durante a menstruação e, em casos graves, incapacitar temporariamente as pacientes

Uma em cada dez mulheres brasileiras convive com a endometriose, segundo dados do Ministério da Saúde. A doença ocorre quando células do endométrio — tecido que reveste o útero — crescem fora da cavidade uterina, atingindo outros órgãos. O principal sintoma são cólicas menstruais intensas, que, em casos mais graves, podem incapacitá-las para as atividades diárias.
De causa ainda desconhecida e sem formas de prevenção, a endometriose é uma condição crônica que pode afetar a fertilidade e aumentar o risco de complicações gestacionais, como aborto espontâneo, parto prematuro e pré-eclâmpsia. Embora não tenha cura, seus sintomas podem ser controlados com medicamentos e, em casos mais severos, com cirurgia para retirada das lesões.
No Dia Internacional da Luta contra a Endometriose, celebrado em 7 de maio, reforçamos a importância do diagnóstico precoce, a identificação dos sintomas e as possibilidades de tratamento.
O que é a endometriose
A endometriose é uma doença crônica e exige acompanhamento contínuo. A medicina ainda não esclareceu completamente seu surgimento, mas duas teorias são mais aceitas: a Teoria Embrionária e a Teoria da Menstruação Retrógrada. Nenhuma delas, no entanto, é conclusiva.
Teoria Embrionária
Segundo Ricardo Pereira, cirurgião ginecológico do Hospital e Maternidade Santa Joana, na Teoria Embrionária, as células do endométrio se formariam fora do útero ainda na fase embrionária. Com a puberdade e a produção hormonal, essas células se ativariam e gerariam as lesões.
Teoria da Menstruação Retrógrada
Já a Teoria da Menstruação Retrógrada sugere que o sangue menstrual, contendo células do endométrio, percorre o caminho inverso pelas tubas uterinas, implantando-se na pelve. Pereira destaca que 90% das lesões estão localizadas na pelve e 10% no abdome.
Outras teorias possíveis
Outras hipóteses também são consideradas, como explica Rodrigo Fernandes, ginecologista do Hospital e Maternidade Santa Joana:
- Predisposição genética: maior risco em mulheres com histórico familiar da doença;
- Alterações imunológicas e inflamatórias: dificultam a eliminação dos focos de endométrio fora do útero;
- Fatores ambientais e hormonais: também estudados como possíveis influenciadores.
Sintomas da endometriose
A dor intensa durante a menstruação é o sintoma mais comum. Ela resulta da inflamação no local da lesão, ativando nervos que transmitem sinais dolorosos ao cérebro. A intensidade varia conforme o local e a gravidade das lesões (grau de inflamação) e as características das fibras nervosas envolvidas.
Em alguns casos, a dor pode ser incapacitante, afetando significativamente a qualidade de vida das mulheres e se intensificando ao longo dos anos.
Além das cólicas, a Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta sintomas como dor durante relações sexuais, distensão abdominal, náuseas, fadiga, depressão e ansiedade.
O tratamento pode incluir medicamentos e até mesmo cirurgia (leia abaixo), mas é possível adotar algumas medidas antes – a depender do caso – para minimizar os sintomas. Carolina Fernandes Giacometti, médica ginecologista do Hospital Israelita Albert Einstein, recomenda a prática de exercícios físicos para ajudar a reduzir o limiar da dor e melhorar o bem-estar geral da paciente.
Pesquisas recentes indicam que estresse e ansiedade podem estar associados à endometriose, influenciando o sistema imunológico e os níveis hormonais. Embora não sejam causas diretas da doença, esses fatores podem agravar os sintomas, conforme explica Giacometti.
Diagnóstico da endometriose
De acordo com o Ministério da Saúde, o primeiro passo para identificar a endometriose é o exame ginecológico, complementado por exames laboratoriais. Exames de imagem como ultrassonografia com preparo intestinal e ressonância magnética do abdome e da pelve também contribuem para o diagnóstico.
A doença pode se manifestar da adolescência até os 30 anos e, segundo o cirurgião Ricardo Pereira, é raro o surgimento dos primeiros sintomas após essa fase.
O especialista ainda ressalta que, na maioria das vezes, o diagnóstico ocorre por volta dos 35 a 40 anos, e estudos sugerem que o tempo médio entre o início dos sintomas e o diagnóstico pode chegar a até 8 anos.
Por isso, a OMS alerta: dor angustiante durante a menstruação não é normal, e buscar ajuda médica é fundamental.
Tratamentos para endometriose
As opções de tratamento variam conforme o quadro clínico da paciente, a gravidade da doença e o desejo de engravidar. Elas incluem:
No tratamento clínico, são utilizados analgésicos e hormônios, como a progesterona, para alívio dos sintomas — sem, no entanto, eliminar as lesões. O tratamento é contínuo ao longo da vida reprodutiva da mulher, com tendência de regressão após a menopausa devido à queda dos hormônios sexuais.
Em casos mais graves, pode ser indicada a cirurgia para remoção dos focos de endometriose, melhorando a qualidade de vida da paciente. Segundo Pereira, a taxa de sucesso da cirurgia varia entre 60% e 80%. Mas, conforme destaca Giacometti, a doença pode recidivar em 20% a 40% dos casos.
Veja a seguir as principais possibilidades de tratamento detalhadas pelo especialista Rodrigo Fernandes:
- Tratamento clínico: com medicamentos hormonais (anticoncepcionais combinados ou progestagênios) que visam suprimir a menstruação, além de analgésicos e anti-inflamatórios para controle da dor;
- Cirurgia laparoscópica: indicada para casos mais avançados ou com acometimento de intestino e bexiga, visando remover ou cauterizar as lesões e aderências;
- Cirurgia robótica: evolução da laparoscopia, com maior precisão e visualização, especialmente útil em casos de endometriose profunda, acometendo múltiplos órgãos.
Fernandes também reforça a importância de mudanças no estilo de vida como estratégia complementar ao tratamento. “Alimentação anti-inflamatória, prática regular de atividade física, manejo do estresse, suporte psicológico e higiene do sono contribuem para o controle dos sintomas e melhora da qualidade de vida.”
Apesar das possibilidades terapêuticas, cerca de 40% das mulheres com endometriose podem enfrentar dificuldades para engravidar, como explica Giacometti. Porém, a maioria consegue engravidar espontaneamente ou com auxílio médico.
Mentiras sobre a endometriose:
conheça as fake news e espalhe informação verdadeira
- “Toda dor menstrual é normal.”
Falso. Cólicas intensas e incapacitantes devem ser investigadas.
- “Endometriose só afeta mulheres mais velhas.”
Falso. Pode se manifestar desde a adolescência.
- “Gravidez cura a endometriose.”
Falso. Em alguns casos, os sintomas melhoram temporariamente, mas a doença pode retornar.
- “Se menstruo regularmente, não tenho endometriose.”
Falso. O ciclo regular não exclui a doença.
- “Se o ultrassom não mostrou nada, está tudo bem.”
Falso. Muitas vezes, a endometriose não aparece em exames convencionais.
- “Se tenho endometriose, não posso engravidar.”
Falso. Muitas mulheres engravidam espontaneamente ou com suporte médico.
- “Endometriose é só uma dorzinha na menstruação.”
Falso. A doença pode comprometer vários órgãos e impactar física e emocionalmente a paciente.
- “Só cirurgia resolve a endometriose.”
Falso. O tratamento é individualizado e pode combinar medicamentos, mudanças de hábitos e suporte multidisciplinar.
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