
A queima de combustíveis fósseis, o desmatamento e o manejo agrícola inadequado são alguns dos fatores que contribuem significativamente para aumentar a temperatura média do planeta, desequilibrando os sistemas. Como consequência, eventos climáticos extremos como ondas de calor, secas prolongadas, chuvas intensas, inundações e incêndios florestais vêm ocorrendo com maior frequência nos últimos anos. E essas mudanças no clima não são apenas um problema para o meio ambiente, mas afetam a saúde da população como um todo.
Este cenário está ligado ao aumento de doenças, sobrecarga dos sistemas de saúde e à vulnerabilidade das populações. A estimativa é que, entre 2030 e 2050, a mudança climática cause um aumento de 250 mil mortes por ano, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS).
Em entrevista concedida à Anahp e incluída na publicação “ESG nos Hospitais Anahp 2024: O Impacto das Emergências Climáticas na Saúde“, Carlos Nobre, cientista, professor e climatologista, alerta que a temperatura no mundo todo está subindo em níveis que nunca foram vistos antes. Em 2023, por exemplo, pela primeira vez a temperatura global aumentou mais de 1,5 ºC em apenas um ano. Segundo o especialista, a ciência tem evidências de que o principal fator para essas mudanças são os gases do efeito estufa lançados na atmosfera. Com isso, fenômenos climáticos que até então eram esporádicos, como chuvas muito fortes, secas e ondas de calor, se tornaram mais frequentes e estão batendo recordes.
Mudança do clima e o impacto na saúde
Mas como, exatamente, a mudança do clima pode afetar a saúde da população? Nobre explica que os ecossistemas estão interligados e, assim, se a temperatura média se eleva e provoca chuvas mais frequentes e torrenciais, por exemplo, o clima mais quente e úmido se torna propício para a proliferação de mosquitos – e, entre eles, podem estar aqueles que causam doenças como dengue, zika e chikungunya.
Além disso, com a temperatura do planeta mais alta, há eventos mais frequentes de ondas de calor – fenômeno que ocorre quando a temperatura fica 5º C acima da média por mais de cinco dias seguidos. Esse clima quente pode levar à desidratação, insolação, agravamento de doenças crônicas, exaustão, e cãibras. Em grupos mais vulneráveis, pode até mesmo levar à morte.
A publicação “ESG nos Hospitais Anahp 2024: O Impacto das Emergências Climáticas na Saúde” apresenta outros cenários em que as mudanças no clima afetam a saúde da população. O calor extremo, por exemplo, está ligado ao agravamento de condições crônicas, como doenças cardíacas e pulmonares, o que pode elevar as taxas de mortalidade.
Nas inundações e enchentes, por exemplo, as águas sujas podem aumentar os casos de leptospirose, hepatite A, e diarreia. Nos deslizamentos, além das mortes causadas pela passagem da terra, a lama contaminada com esgoto doméstico e resíduos diversos de casas, comércios e indústrias impacta na saúde de quem entra em contato com esse material.
“As mudanças climáticas afetam a biodiversidade dos ecossistemas e causam, por exemplo, a proliferação de mosquitos, poluição do ar, e até riscos de novas pandemias. A degradação das florestas, especialmente a Amazônia, aumenta o risco de zoonoses. Além disso, a poluição do ar causada pela queima de combustíveis fósseis e queimadas gera doenças respiratórias graves, afetando milhões de pessoas”, afirmou Nobre na entrevista.
Segundo o climatologista, dados da OMS mostram que a poluição causada pela queima de combustíveis fósseis é responsável pela morte de mais de seis milhões de pessoas no mundo – número que por si só já é alarmante, mas que ainda assim não mostra todo o impacto deste quadro na saúde da população pela subnotificação ligada à falta de refinamento de dados.
“As ondas de calor, por exemplo, provocam um grande número de mortes todos os anos, muito maior do que se imagina, e a OMS não consegue medir e divulgar porque os óbitos são registrados como decorrentes de doença cardiovascular ou pulmonar, mas que foram agravadas pelas altas temperaturas”, explica Nobre.
Como minimizar o impacto na saúde
Para mitigar as consequências da mudança no clima, Carlos Nobre afirma que é preciso reduzir a emissão dos gases de efeito estufa, fazendo a transição para as energias renováveis, e estimular o transporte com veículos elétricos, ou seja, que não são movidos à base da queima de combustíveis fósseis.
Além disso, é preciso viabilizar grandes ações coletivas, como desenvolver políticas de mapeamento e adaptação para realocar pessoas em áreas de alto risco, proteger as florestas tropicais e a biodiversidade para prevenir o surgimento de novas pandemias, e melhorar os sistemas de alerta, além de educar a população para saber como reagir a eventos extremos.
Enquanto isso, é importante ficar sempre atento e tomar medidas individuais para minimizar o impacto das mudanças climáticas na saúde. Em dias muito quentes, por exedmplo, é de extrema importância manter-se hidratado. Quando a poluição estiver mais concentrada, a sugestão é monitorar a qualidade do ar e evitar se expor ao ambiente externo, especialmente em casos de pacientes com doenças respiratórias. Além disso, é preciso manter os ambientes limpos, para evitar acúmulo de água que pode se tornar criadouro de mosquitos.
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