Janeiro Branco: OMS acende alerta para a solidão, que traz impactos para a saúde mental e física

Solidão e Saúde Mental

O Ministério da Saúde promove neste mês a campanha Janeiro Branco, com foco em saúde mental e prevenção de doenças derivadas do estresse, como ansiedade, depressão e pânico. E entre os gatilhos de quadros de estresse estão a solidão, que afasta os indivíduos de atividades de lazer e em grupo.

A OMS (Organização Mundial de Saúde) classificou a solidão como prioridade na saúde pública, devido aos impactos que causa no corpo e na mente das pessoas – incluindo crianças, adolescentes, adultos e idosos – de qualquer lugar do mundo. Também foi criada uma comissão que fomenta o debate mundial sobre as conexões sociais, abaladas após a pandemia de Covid-19.

Para se ter uma ideia da abrangência, a OMS estima que um em cada quatro adultos de todo o mundo vivem em isolamento social, e que 5% a 15% dos adolescentes sentem solidão.

Impactos da solidão

A solidão é uma sensação ou sentimento que surge quando o indivíduo se isola de outras pessoas e passa a interagir minimamente com o meio em que vive. Quando se manifesta em crianças e adolescentes, pode ter impactos para a vida toda, porque nessa faixa etária há o desenvolvimento físico e emocional imprescindíveis para o indivíduo.

“A aprendizagem de novas habilidades depende das interações. Quando temos o isolamento social, há alteração na bioquímica cerebral, com menores níveis de serotonina, noradrenalina e dopamina, responsáveis pela sensação de bem-estar”, afirma Cristina Borsari, coordenadora de psicologia do Sabará Hospital Infantil.

Segundo ela, sem a química equilibrada, o indivíduo passa a ter sensações relacionadas à ansiedade, dificuldades no sono e na rotina alimentar. “É uma reação em cadeia, que resulta em estado de humor deprimido e possíveis pensamentos suicidas”, alerta.

Atenção aos mais jovens

Por isso, é importante ter um olhar atento para os mais jovens. Um estudo publicado no periódico científico Archives of Pediatrics and Adolescent Medicine, em 2019, aponta que crianças com nível de isolamento social alto têm mais chances de se tornarem adultos deprimidos e com alto risco de alterações cardíacas ou metabólicas, como obesidade, hipertensão e diabetes, cita Borsari.

O mesmo estudo aponta, ainda, que o isolamento social em crianças tem impacto mais negativo na saúde do que hábitos de vida, como alimentação, atividade física e tabagismo. A ligação se dá porque a atividade física das crianças depende do contato social com amigos. “A solidão pode gerar certo sedentarismo, e crianças em tal condição podem ser prejudicadas em seu crescimento e desenvolvimento funcional e emocional”, diz Borsari.

O isolamento social imposto pela pandemia teve impactos nessa faixa etária. Resultados preliminares de uma pesquisa divulgados em 2021 pelo Unicef apontam que um em cada cinco adolescentes e jovens de 15 a 24 anos – o que corresponde a 19% – afirmaram se sentir deprimidos ou com pouco interesse por atividades. O estudo foi feito em 21 países em parceria com o instituto Gallup.

Esse quadro se soma a outro que já vinha ocorrendo antes da pandemia, que é a sociedade hiperconectada. Os jovens passam mais tempo em telas do que as gerações anteriores, e os adolescentes trocam encontros pessoais para interagir nas redes sociais.

“Essa hiperconectividade, como todo comportamento exacerbado, pode resultar em transtornos de ansiedade, porque ficamos mais imediatistas e consumistas. Dá também a falsa sensação de que a vida do outro é perfeita e a minha é vazia ou inatingível, devido a padrões impostos”, destaca Borsari.

Para o educador e psicólogo Hugo Monteiro Ferreira, essa é a “geração do quarto” – nome dado ao seu livro que trata do sofrimento psíquico de adolescentes de 11 a 18 anos, que vivem isolados em seus computadores.

Borsari diz que quanto maior o sofrimento, maior o isolamento. “É primordial restabelecer a conexão, o diálogo e convocar esse adolescente para o convívio familiar. Cabe aos pais combater o comportamento de isolamento e oferecer escuta aos filhos, estar disponível de maneira aberta e sem julgamentos e evitar riscos”, defende.

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