Saúde avança para um modelo de remuneração baseado em valor

Evolução ainda enfrenta os desafios de criar métricas e engajar corpo clínico. População empenhada na prevenção vai facilitar o processo

O projeto Anahp AO VIVO – Jornadas Digitais, da Associação Nacional de Hospitais Privados – Anahp, debateu os Modelos de remuneração baseados em valor: cases práticos, na última terça-feira (20). De acordo com os convidados, o formato em que se paga por procedimento realizado está ultrapassado e é necessário avançar para um padrão em que os resultados sejam o critério predominante. No entanto, a transição não é um processo simples.

Para Alexandre Osmo, consultor sênior da Consultoria do Hospital Sírio-Libanês, “nós sabemos qual é o modelo ideal, a questão é como chegar lá”. Hilton Mancio, superintendente executivo do Tacchini Sistema de Saúde, completou que todo o sistema está bem familiarizado com o fee for service e que agora será necessário migrar para outra realidade sem saber exatamente como ela funciona. “Vamos ter que construir os caminhos”, afirmou.
Guilherme Azevedo, CHO da Alice, fez a pergunta que expõe o principal desafio. “O que é valor em saúde?”. Nesse sentido, Ernesto Nogueira, CEO e founder da Valueconnected, apontou que “a remuneração baseada em valor esbarra na falta de métricas”.

Azevedo acrescentou que é preciso definir critérios para determinar, por exemplo, as melhores condutas e os desfechos eficientes na relação entre resultados clínicos e custos. “Como vamos medir a satisfação do cliente?”, questionou. Para ele, “com todos esses indicadores claros e públicos, o sistema se organiza sozinho”.

Apesar das incertezas, a transformação está em curso. Julio Cesar Majozoub Vieira, superintendente comercial do Hcor, contou que o fee for service representava, em 2019, 87% da receita do hospital e agora responde apenas por 59%. E que, durante a transição, os resultados financeiros continuaram em ascensão, o que foi determinante para o seguimento do esforço. “Sempre ficamos parados discutindo quanto o hospital vai perder quando tentar evoluir para outros modelos. Hoje, estamos mais tranquilos em relação a isso, mas a jornada foi difícil”, disse.

Nogueira destacou que “nenhum modelo de remuneração é perfeito e sem desafios para a implementação” e que, por isso, é recomendável a realização de pilotos em projetos menores para acelerar o aprendizado na prática. E enfatizou que o acesso a dados de boa qualidade é indispensável nessa jornada.

Osmo lembrou que grande parte dos hospitais do país “não têm nem um sistema com os custos dos procedimentos individualizados”. Já Vieira afirmou que essa falta de informação é um empecilho grave na saúde suplementar, já que “as operadoras querem previsibilidade”.

Para Mancio, as áreas comerciais dos hospitais estão presas ao tradicional, em um modelo com tabela de preços. “É preciso ter uma estrutura capaz de pensar diferente e propor as soluções para os parceiros”, defendeu.
A evolução também esbarra na falta de cultura e engajamento dos profissionais. Azevedo lembrou que é fundamental a aderência do corpo clínico aos protocolos, com o “alinhamento de incentivos”, e Vieira observou que “se a equipe médica não estiver envolvida na criação do modelo, depois é impossível gerenciar”.

Apesar de tudo isso, os especialistas apontaram que uma mudança externa deve ser ainda mais determinante para a adoção do modelo de remuneração baseada em valor. Osmo destacou uma nova assistência baseada mais em doenças crônicas do que em condições agudas, que vai exigir mais acompanhamento e resultados. E Vieira acrescentou a conscientização da população com a prevenção. “Quando a pessoa entender que ela precisa se tratar mais e se cuidar mais, todo o sistema vai mudar naturalmente”, previu. E Azevedo concordou que a transformação será feita de fora para dentro, afinal, “a saúde é do consumidor”.


Anahp Ao Vivo – Jornadas Digitais
O debate Modelos de remuneração baseados em valor: cases práticos aconteceu dentro projeto Anahp Ao Vivo – Jornadas Digitais que, em setembro, traz o tema Melhores Práticas. Este encontro teve a participação Alexandre Osmo, consultor sênior da Consultoria do Hospital Sírio-Libanês, Ernesto Nogueira, CEO e founder da Valueconnected, Guilherme Azevedo, CHO da Alice, e Julio Cesar Majozoub Vieira, superintendente comercial do Hcor. A moderação foi feita por Hilton Mancio, superintendente executivo do Tacchini Sistema de Saúde.

O “Anahp Ao Vivo – Jornadas Digitais”, é uma série de eventos online, temáticos e gratuitos, que semanalmente, dentro de um mês, reúne especialistas para debates relevantes para o setor saúde. O próximo encontro no dia 27 de setembro, às 10h, vai discutir as Estratégias para aumentar o engajamento dos corpos clínicos das instituições. Inscreva-se aqui.

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