A qualidade dos serviços de saúde suplementar pode determinar a perenidade das instituições

A saúde no Brasil desafia empresas a uma busca por melhoria contínua e o monitoramento da eficiência dos serviços prestados pelo setor

Além da necessidade de incorporação de novas tecnologias, o envelhecimento da população, a necessidade de lidar com custos crescentes e elevados, o sistema de saúde suplementar brasileiro também enfrenta desafios em relação ao cuidado desordenado em uma rede fragmentada e com pouco compartilhamento de informações sobre os pacientes. Diante dessas questões, a Anahp, em parceria com a Hospitalar, promoveu debate online sobre o tema “Como tornar a qualidade prioridade na saúde”. O evento contou com a palestra do diretor adjunto substituto da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), Pedro Villela, seguida de debate. Nesse primeiro momento, a moderação foi feita por Evelyn Tiburzio, diretora de Conteúdo da Associação.

“O modelo atual de saúde é insuficiente para responder a todas as demandas atuais do setor. É necessário o redesenho do modelo assistencial atual e a criação de um modelo baseado em valor, e não mais somente em preço”, afirmou Villela. Segundo ele, entre os objetivos da ANS, estão a necessidade de, por atribuição legal, zelar pela qualidade do setor e induzir práticas que zelem pela qualidade da saúde suplementar.

Neste sentido, o diretor falou sobre iniciativas praticadas pela agência que visam garantir maior qualidade dos serviços prestados em saúde e mitigar efeitos da falta de compartilhamento de informações com o paciente e da pouca transparência de ações tanto de operadoras de planos de saúde quanto de hospitais. Além do conhecido programa de acreditação de operadoras, que passou por atualização recentemente, o palestrante também citou iniciativas como o Índice de Desempenho da Saúde Suplementar, Parto Adequado e outros programas que buscaram fomentar a qualidade e monitorar a eficiência do setor de saúde suplementar brasileiro.

Villela ressaltou ainda duas iniciativas. A primeira, o QUALISS, o Programa de Qualificação dos Prestadores de Serviços de Saúde, tem por missão estimular a qualificação dos prestadores, monitorando e avaliando a qualidade da assistência prestada. A segunda é o SIHOSP, o Sistema de Indicadores Hospitalares da agência lançado recentemente que por meio de coleta de dados, visa acompanhar o desempenho e avaliar a qualidade de hospitais que prestam serviços por meio de planos de saúde. Atualmente o sistema avalia 16 instituições por meio de 14 indicadores. A iniciativa prevê ainda a criação de uma metodologia validada capaz de comparar prestadores hospitalares. “A única competição viável em saúde deve se basear em valor e girar em torno de resultados”, afirmou o diretor da ANS.

Na segunda parte do evento, a professora titular da FGV Ana Maria Malik mediou um debate entre profissionais do setor que trabalham o tema de qualidade nas instituições de saúde. Participaram da conversa Miguel Cendoroglo, superintendente e diretor médico no Hospital Israelita Albert Einstein, Heleno Costa Junior, superintendente do Consórcio Brasileiro de Acreditação – Associado Joint Commission International, além de Rubens Covello, fundador, sócio e CEO na QGA – Qmentum Global Alliance e IQG e Péricles Góes, superintendente técnico da Organização Nacional de Acreditação (ONA).

Ana Maria Malik levantou o questionamento sobre se mais gastos significa necessariamente mais qualidade nos serviços de saúde prestados e ela mesmo sugeriu um caminho para a discussão entre os participantes dizendo que “depende do que se entende por qualidade”. Cendoroglo falou da sua experiência sobre o tema à frente do Einstein. “Resolvemos investir em qualidade porque fizemos dela o nosso modelo de negócio. Somos reconhecidos pela qualidade e não pelo volume de atendimentos que prestamos ou imensidão da nossa rede. Pensamos em crescimento, mas esse não é o nosso DNA. Nosso DNA é busca pela qualidade de forma quase obsessiva. Nosso sistema quer levar excelência para tudo o que fazemos. É esse nosso propósito e missão”, afirmou.

Já Heleno Costa Junior confia no processo de acreditação das instituições, mas ressalta que “elas são apenas um caminho, e não uma solução. Para ele, a solução para o setor passa por uma buscar por aprimoramento ao longo do tempo. A cada nova publicação de manual, novos conceitos precisam ser aprimorados e novas perspectivas precisam mover os hospitais rumo a uma nova e melhor direção”. Covello, por sua vez, lembrou que no Brasil, no início, o processo de acreditação das instituições foi usado como ferramenta de marketing e competição. “Ficou bem claro que as instituições amadureceram ao longo do tempo e que a acreditação é de verdade uma ferramenta fantástica de avaliação externa, mas também de melhoria contínua e de envolvimento das pessoas da instituição e colaboradores”, acrescentou.

Para Péricles, a conquista das acreditações só tem valor real quando reflete uma mudança de cultura das instituições. “A acreditação não garante que o paciente esteja satisfeito. Ela é apenas uma folha de papel pendurada na parede da instituição. O importante é o que está por trás da parede, a mudança de comportamento e o nível de comprometimento das pessoas que compõem aquela organização”. Finalizando, a mediadora Ana Malik afirmou que “enquanto as pessoas e instituições não assumirem que uma falha é uma falha, ninguém vai se preocupar em mudar. O conhecimento confronta e evolui. Há que se ter resiliência. Afinal, a cultura de qualidade é mais um instrumento e não pode ser apenas mais um formulário”.

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