Equidade, cuidado com os profissionais de saúde e integração do sistema são alguns dos desafios pós-pandemia
Os especialistas que participaram do webinar “A nova percepção sobre a segurança do paciente após a pandemia”, promovido pela Associação Nacional dos Hospitais Privados (Anahp), nesta terça-feira (07), concordaram que a Covid-19 provocou uma emergência inédita para a saúde no mundo inteiro.
>> Assista ao vídeo do evento clicando aqui
“Nunca observamos um cenário tão avassalador, em termos de demanda, com excesso de pacientes graves por um longo período de tempo”, avaliou Victor Grabois, presidente da Sociedade Brasileira para a Qualidade do Cuidado e Segurança do Paciente (Sobrasp). Para Paulo Borem, diretor sênior do Institute for Healthcare Improvement (IHI), “o sistema não estava preparado para lidar com a situação e a pressão sobre os profissionais foi enorme”. Paola Andreoli, gerente de Qualidade, Segurança do Paciente no Hospital Alemão Oswaldo Cruz, completou que “todos os planos de contingência se mostraram pequenos e insuficientes”. E, neste sentido, a enquete realizada com o público do evento mostrou que 90% dos respondentes concordam que a pandemia fragilizou a assistência.
Equidade no sistema
Daniela Siccardi Menezes, gerente de Qualidade e Segurança do Paciente na Rede Santa Catarina, destacou que a pandemia evidenciou e agravou problemas pré-existentes em um sistema “que já era inseguro e que foi colocado sob pressão”. Grabois lembrou que as dificuldades na assistência começam com fatores que afetam todos os setores da sociedade. “Temos uma pesquisa de Harvard apontando que desigualdades sociais foram mais determinantes para a mortalidade do que fatores de risco clínico”, ilustrou. Vania Rohsig, superintendente Assistencial e de Educação no Hospital Moinhos de Vento e coordenadora do Grupo de Trabalho (GT) Organização Assistencial da Anahp, alertou para a urgência de “enfrentar a iniquidade no sistema de frente”.
Os especialistas, aliás, ressaltaram a necessidade de tratar a segurança do paciente como uma questão para o sistema e não como responsabilidade isolada de cada organização. “Nesse assunto, não pode haver muros entre as instituições”, pontuou Andreoli, sugerindo a oportunidade de um trabalho colaborativo. Borem afirmou que “não adianta eu ser resiliente, mas estar inserido em um ambiente sem resiliência”. E Menezes reivindicou um sistema ágil e integrado, com uma liderança capaz de “identificar os problemas, sugerir soluções e testar as mudanças” para, depois, compartilhar “processos a prova de erros”.
Profissionais
Além disso, continuaram os participantes, o cuidado com os profissionais de saúde deve receber atenção semelhante ao cuidado com o paciente, sobretudo na área de saúde mental. “Imagine o estresse das equipes nesses momentos. O sistema tem que oferecer uma abordagem adequada”, colocou Borem. Para Andreoli, “a segurança do paciente passa pela segurança física e mental dos profissionais de saúde”. Na enquete com o público, entre os impactos isolados da pandemia na assistência, a saúde mental foi o mais citado.
Andreoli acrescentou que a emergência exigiu a necessidade de “reinventar a capacitação dos profissionais, com novas formas de treinamento em bloco, por exemplo”. Grabois afirmou que é preciso “integrar mais as esquipes e implantar modelos de gestão mais colegiados e participativos”.
Para Menezes, é indispensável que os profissionais se sintam seguros para discutir as falhas, pois esse é o caminho mais curto para as soluções. “Temos que estimular respostas não punitivas aos erros”, recomendou a executiva, e “continuar firmes no propósito de construir um sistema mais seguro”. Para ela, com os ensinamentos da pandemia, cabe “a todos nós fazer a lição de casa em respeito a todas as vítimas e profissionais que arriscaram a vida enfrentando a emergência”.
Anahp Ao Vivo – Jornadas Digitais
O webinar “A nova percepção sobre a segurança do paciente após a pandemia” teve a participação de Daniela Siccardi Menezes, gerente de Qualidade e Segurança do Paciente na Rede Santa Catarina; Paola Andreoli, gerente de Qualidade, Segurança do Paciente no Hospital Alemão Oswaldo Cruz; Paulo Borem, diretor sênior do Institute for Healthcare Improvement (IHI); e Victor Grabois, presidente da Sociedade Brasileira para a Qualidade do Cuidado e Segurança do Paciente (Sobrasp). A moderação foi feita por Vania Rohsig, superintendente Assistencial e de Educação no Hospital Moinhos de Vento e coordenadora do GT Organização Assistencial da Anahp.
O encontro aconteceu dentro do projeto “Anahp Ao Vivo – Jornadas Digitais”, uma série de eventos online, temáticos e gratuitos, que semanalmente reúne especialistas para debates relevantes. O próximo debate da jornada de “Qualidade” está previsto para o dia 14 de junho e vai abordar os “Desafios da gestão da qualidade nas organizações de saúde: aprendizados e legados da pandemia”.
Mais informações: https://conteudo.anahp.com.br/anahp-ao-vivo