Anahp Ao Vivo | Saúde suplementar: lucros recordes, crescimento estagnado e alerta sobre a cadeia

O Anahp Ao Vivo desta quinta-feira (12) trouxe uma análise dos resultados da saúde suplementar no primeiro trimestre de 2025. Com base nos dados da ANS, do Sistema de Indicadores Hospitalares Anahp e na leitura dos especialistas da consultoria Arquitetos da Saúde, o debate destacou o lucro histórico das operadoras, mas também sinalizou alertas estruturais, como a desaceleração no número de beneficiários, o aumento das glosas, o crescimento da judicialização e a manutenção das reservas técnicas em níveis elevados.

Participaram do encontro:

  • Adriano Londres, consultor da Arquitetos da Saúde
  • Luiz Feitoza, consultor da Arquitetos da Saúde
  • Antônio Britto, diretor-executivo da Anahp (moderação)

Confira abaixo os principais pontos do debate.

Lucro recorde e melhora operacional

O primeiro trimestre de 2025 registrou um desempenho excepcional das operadoras.

O DRE líquido chegou a 8,31%, o maior da série histórica para primeiros trimestres, e o lucro líquido consolidado do setor foi de R$ 6,9 bilhões, mais que o dobro do resultado do mesmo período de 2024.

A sinistralidade recuou para 79%, devolvendo folga ao resultado operacional, sem depender de receitas financeiras..

“Historicamente, o primeiro trimestre é melhor. Ainda assim, o resultado surpreende. Tivemos um DRE líquido de 8,31% e uma redução importante da proporção de operadoras com prejuízo.” – Luiz Feitoza

Mesmo operadoras de pequeno e médio porte, tradicionalmente mais pressionadas, apresentaram queda na sinistralidade. O setor, no entanto, já se prepara para uma possível desaceleração nos próximos trimestres.

Crescimento estagnado na base de beneficiários

Pela primeira vez desde 2020, o crescimento orgânico da base de beneficiários apresentou resultado negativo: menos 70 mil vidas no trimestre.

Sem considerar efeitos pontuais, como a entrada de uma grande autogestão, o número revela estagnação preocupante.

“Estamos com 51,6 milhões de beneficiários, basicamente o mesmo número de 2014. O crescimento foi de menos de 1% ao ano na última década. É algo que precisa ser enfrentado.” – Adriano Londres

Esse movimento acende um alerta sobre o potencial de expansão da saúde suplementar no país e reforça a necessidade de estratégias sustentáveis para ampliar o acesso.

Ocupação hospitalar e mudança no perfil assistencial

A taxa de ocupação nos hospitais da Anahp caiu de 78% para 74% no primeiro trimestre, enquanto aumentou a participação das terapias no total de procedimentos realizados. Os dados apontam para uma transição no perfil assistencial da rede.

“Houve uma queda na ocupação e um crescimento importante nas terapias. Isso altera a lógica dos custos e do financiamento.” – Luiz Feitoza

A redução da ocupação pode trazer alívio momentâneo, mas também pressiona a sustentabilidade financeira dos hospitais, que têm parte relevante de suas receitas vinculadas à internação.

Setor cresce, mas parte da cadeia continua pressionada

Apesar da melhora nos indicadores financeiros das operadoras, prestadores de serviço, fornecedores e pacientes ainda não sentem os efeitos positivos desse desempenho. A desconexão entre os elos da cadeia preocupa.

“O hospital é onde tudo se encontra: paciente, médico, operadora, fornecedor, insumo. Se esse ambiente se desequilibra, toda a cadeia sofre. E ele continua desequilibrado.” – Antônio Britto

O debate reforçou que, sem mudanças estruturais, os ganhos financeiros de curto prazo podem não se traduzir em melhorias sustentáveis para o setor como um todo.

Glosas batem novo recorde

A taxa de glosa inicial atingiu 17% no primeiro trimestre de 2025, a maior da série histórica registrada pela Anahp. O aumento ocorre mesmo em um cenário de melhora dos resultados das operadoras.

“As operadoras tiveram resultados excelentes, mas a glosa aumentou. E isso é uma questão a ser debatida com mais atenção.” – Antônio Britto

Embora as glosas façam parte do processo de auditoria, os especialistas alertam que a prática não pode ser usada como ferramenta de contenção artificial de despesas.

Judicialização em alta: 62% por direitos contratados

Os dados da ANS apontam que a maior parte da judicialização – R$ 2,4 bilhões em 2023 – refere-se à cobrança de serviços já previstos em contrato. Apenas no primeiro trimestre de 2025, os custos judiciais superaram R$ 500 milhões.

“Um dado que chama a atenção é que 62% das ações são para exigir o que está no contrato. Isso revela o tamanho da distorção do sistema.” – Adriano Londres

A judicialização, ainda que legítima em muitos casos, revela falhas de acesso e comunicação e reforça a urgência de aperfeiçoamentos regulatórios.

Reservas técnicas crescem, apesar da folga

Mesmo com a melhora do resultado operacional e a queda na sinistralidade, as operadoras continuam reforçando suas reservas técnicas – especialmente o Peona, com destaque para as seguradoras.

“Há uma quantidade muito grande de dinheiro sendo direcionada para reservas, sem que se discuta quando e como esses recursos poderão ser utilizados.” – Luiz Feitoza

A manutenção de reservas em níveis elevados em um cenário de estabilidade desperta a necessidade de uma discussão sobre sua real finalidade e sobre a distribuição de riscos no setor.

Autogestões apresentam leve recuperação

O segmento de autogestão, tradicionalmente pressionado, teve um resultado positivo de 4,59% no primeiro trimestre. Apesar disso, o desempenho operacional ainda é frágil, com resultado levemente negativo.

“As autogestões ainda estão sofrendo. Melhoraram, mas continuam com resultado operacional negativo. É um modelo que poderia ter muito mais protagonismo no Brasil.” – Luiz Feitoza

A flexibilização recente das regras da ANS pode abrir espaço para maior crescimento das autogestões, mas a sustentabilidade do modelo ainda exige atenção.

Conclusão: reformas são urgentes, independentemente do trimestre

O encontro foi encerrado com o reforço sobre os bons resultados das operadoras, que não podem camuflar os desafios estruturais da saúde suplementar. A expansão do acesso e o equilíbrio da cadeia dependem de mudanças profundas.

“É preciso discutir a saúde suplementar em qualquer trimestre – no bom, no ruim ou no médio. Porque, mesmo com os números excelentes, o sistema continua desequilibrado.” – Antônio Britto.

Assista à integra do debate:

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