Saúde para Todos: como a saúde privada pode atuar para atender cada vez mais pessoas

No mês em que celebra 75 anos, a Organização Mundial da Saúde (OMS) chama atenção para uma causa importante por meio da campanha com o tema “Saúde para Todos”. Mas de que maneira será que é possível ampliar o acesso à saúde, para que atenda – literalmente – todo mundo? Segundo a organização, cerca de 30% das pessoas do planeta não têm acesso aos serviços básicos.

No Brasil, uma das respostas possíveis para esse problema é fazer com o que o sistema de saúde suplementar (privado) e o sistema público atuem juntos, como já acontece em casos de parcerias público-privada e por meio de projetos filantrópicos.

De acordo com o último levantamento do Fórum Nacional das Entidades Filantrópicas, o FONIF, atualmente são mais de 27 mil instituições filantrópicas no país – das quais 5.510 são unidades com atuação predominante no Sistema Único de Saúde (SUS).

O relatório destaca, ainda, um outro fator: a importância dessas instituições de saúde nos 861 municípios onde a única unidade hospitalar de atendimento geral é filantrópica. Como aponta o documento, “para a população residente, se não fosse o atendimento prestado pelo hospital geral filantrópico, seria necessário buscar os serviços de saúde em outro município próximo, ou mesmo distante, dependendo do tipo de atenção.”

A filantropia pode ser uma iniciativa paralela à atuação principal de um hospital particular, como o trabalho realizado por meio de institutos sociais, ou ser representada por organizações inteiramente dedicadas a essa missão, como é o caso das Santas Casas de Misericórdia espalhadas pelo Brasil. “Parece óbvio falar que a saúde é um direito de todos e dever do Estado, mas ninguém sabe como é que isso se dava antes do SUS, por exemplo. E é daí que ‘nascem’ as Santas Casas de Misericórdia. Esse é um passo importante em termos legislativos e constitucionais”, explica Ana Paula Pinho, diretora-executiva de Sustentabilidade e Responsabilidade Social do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.

O Oswaldo Cruz mesmo é um exemplo de hospital filantrópico que, além de atender à iniciativa privada, também atua diretamente com o SUS – mantém desde 2014 o Instituto Social Hospital Alemão Oswaldo Cruz (ISHAOC), visando fortalecer a saúde pública com ações como a administração e gerência de equipamentos públicos.

Filantropia nos hospitais da Anahp

Assim como o Oswaldo Cruz, outros hospitais de excelência associados à Associação Nacional de Hospitais Privados – Anahp se dedicam, de alguma forma, à filantropia. Atualmente são 47 entre os membros da Associação:

A atuação dessas instituições se dá em diferentes frentes, de acordo com o perfil de cada uma delas. A AACD, por exemplo, que realiza em média 800 mil atendimentos anuais, acolhe pacientes de todas as idades, via SUS e saúde suplementar (particular e convênios); Por telemedicina, o Pequeno Príncipe, entre outros trabalhos, leva seu atendimento pediátrico de excelência ao Vale do Ribeira; Com certificações e acreditações internacionais, o Santa Izabel, da Santa Casa da Bahia, complementa a assistência do SUS a nível municipal e estadual.

Na prática, quem ganha com essa conquista é a população. “Além da alta qualidade com que os pacientes são assistidos no nosso serviço, esse selo reforça o nosso aperfeiçoamento contínuo para oferecer as melhores condições de tratamento aos pacientes. A excelência não é simplesmente uma conquista – é uma cultura a ser sustentada”, diz o provedor da Santa Casa da Bahia, José Antônio Alves.

Para Guilherme Schettino, diretor superintendente de Responsabilidade Social do Hospital Israelita Albert Einstein, “não tem porque imaginar que os sistemas público e privado tenham que caminhar de forma paralela. Eles devem trabalhar da forma mais sinérgica possível, para ampliar o acesso ao cuidado, com mais qualidade, para o usuário do sistema público de saúde”.

No que Ana Paula Pinho, do Oswaldo Cruz concorda e complementa: “A política pode ser pública, mas a execução – e até as formas de você fortalecer o sistema – não precisa ser necessariamente do governo. Ele deve, sim, contar com o sistema de saúde suplementar nesse processo”.

O Oswaldo Cruz e o Einstein estão entre os seis hospitais de referência que fazem parte do Proadi-SUS, o Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde – todos são associados à Anahp: A BP – Beneficência Portuguesa de São Paulo, Hcor, Sírio-Libanês e o Moinhos de Vento. Criado em 2009, o projeto busca apoiar e aprimorar o SUS por meio da capacitação de recursos humanos, pesquisa, avaliação e incorporação de tecnologias, gestão e assistência especializada, de acordo com as demandas do Ministério da Saúde.

“É um ganha-ganha. A Atenção Primária, por exemplo, é algo que aprimoramos com o que aprendemos na Estratégia Saúde da Família. Muito do que usamos como modelo de atendimento, aprendemos a fazer na área pública”, comenta Schettino sobre o programa de promoção e proteção da saúde que é porta de entrada do SUS.

Recentemente, o Hospital Tacchini, de Porto Alegre, buscou no SUS o aprimoramento para parte de sua equipe. Uma parte de seus profissionais participou do Curso de Capacitação da Sistemática de Faturamento Hospitalar e Rotinas Administrativas, promovido pela Federação das Santas Casas e Hospitais Beneficentes, Religiosos e Filantrópicos do RS.

Ao todo foram 16 horas de imersão em rotinas do Sistema Único de Saúde. Durante o período, foi possível aprofundar conhecimentos específicos sobre as principais rotinas que envolvem os processos da saúde pública. “Pudemos perceber as dificuldades que as instituições hospitalares enfrentam na gestão do SUS, e a importância de unir o conhecimento com as melhores práticas da saúde, para o desafio de associar a minimização do custo e manutenção da qualidade e segurança”, descreveu a Coordenadora de Faturamento do Tacchini, Vanessa Ducatti.

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