Obesidade atinge 1 em cada 4 brasileiros; veja mitos e verdades sobre essa doença

Mais de 60% dos brasileiros adultos têm sobrepeso e 1 em cada 4 têm obesidade, segundo a Pesquisa Nacional de Saúde, do Ministério da Saúde. Os dados apontam 41 milhões de pessoas obesas no país. Entre a população acima de 18 anos, a obesidade foi observada em 29,5% das mulheres e 21,8% dos homens. Na faixa etária de 40 a 59 anos, este índice chega a 38% entre as mulheres, enquanto entre homens é de 30%.

A obesidade é uma doença crônica complexa, relacionada à predisposição genética, ambiente em que se vive, tipo de alimentação e estilo de vida. Ela é diagnosticada por uma avaliação clínica que utiliza o peso em quilos dividido pela altura da pessoa, elevado ao quadrado. O resultado é o IMC (Índice de Massa Corpórea). Se o resultado dessa conta for acima de 30, a pessoa é considerada obesa.

Para saber mais sobre o tema, nós ouvimos a endocrinologista do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, Lívia Porto. Confira abaixo os mitos e verdades sobre obesidade.

A obesidade é uma escolha, já que basta fazer exercícios e comer pouco para evitá-la.

Mito. A obesidade não é uma escolha. Ela é uma doença, e ninguém escolhe estar doente. Comer muito — em maior quantidade ou em pior qualidade — leva o corpo a estocar mais energia do que precisa, e esse estoque é a gordura. Em indivíduos com predisposição genética, o acúmulo é maior. Além disso, a obesidade não pode desaparecer só com atividade física. Os exercícios físicos são complementares ao tratamento e à prevenção da obesidade, mas eles sozinhos não farão a obesidade desaparecer. Será preciso mudar hábitos de alimentação, tratar disfunções hormonais (se existirem) e quadros psicológicos, entre outras estratégicas.

A obesidade é uma doença crônica e não tem cura.

Verdade. A obesidade é uma doença multifatorial, ou seja, é causada por vários fatores. Entre eles, há os ambientais, culturais, emocionais, financeiros, estilo de vida e até genéticos. A genética leva ao acúmulo maior de energia e à predisposição de comer mais do que o corpo precisa. “Ela pode ser tratada, mas não curada”, afirma a endocrinologista Lívia Porto.

A obesidade tem relação com hábitos ruins de alimentação.

Parcialmente verdade. A obesidade é uma doença causada por muitos fatores, e um deles é a alimentação inadequada, que tem como base produtos industrializados em vez de alimentos naturais. Os industrializados têm alto teor de gordura, açúcar, conservantes e outros produtos químicos que realçam o sabor. O impacto disso no cérebro é gerar mais prazer na ingestão daquela comida. Com isso, acabam “viciando” o paladar que só ficará saciado se tiver acesso àquele estímulo exagerado, que não está presente na comida natural.

Uma dieta restritiva é tiro e queda para combater a obesidade.

Mito. Uma dieta restritiva não vai mudar os hábitos de quem tem obesidade. O tratamento requer atividade física, orientação nutricional adequada — sem dieta restritiva – e acompanhamento psicológico, caso seja necessário. Além disso, o uso de medicamentos pode ser recomendado e também pode ser indicada uma cirurgia bariátrica, tudo a depender do caso. A ideia é aliar orientações para mudar comportamentos e hábitos alimentares com uso de medicamentos ou cirurgias que possam corrigir disfuncionalidades.

As mulheres têm mais obesidade do que os homens porque comem muito doce.

Mito. Existem mais mulheres com obesidade do que homens, mas isso se dá não só por questões alimentares, mas também fisiológicas e hormonais da mulher, como a gestação, as alterações hormonais e a menopausa também. Na gestação e na TPM (Tensão Pré-Menstrual), a mulher sente uma necessidade maior de consumir alimentos de alta densidade calórica e alta palatabilidade, que normalmente são também alimentos com mais caloria. Além disso, a mulher possui menor massa muscular do que o homem e o gasto energético basal (em repouso) é menor. Após a menopausa, há uma diminuição ainda maior da massa muscular, o que reduz o metabolismo da pessoa.

Chás e cápsulas de produtos naturais são uma boa estratégia contra a obesidade.

Mito. Não existe nenhuma evidência científica de que os fitoterápicos sejam eficazes no tratamento da obesidade ou que ajudem a reduzir peso.

A obesidade leva a um maior risco de infarto e outras doenças.

Verdade. Pacientes com obesidade têm maior risco de sofrer infarto. Isso porque a gordura pode se depositar nas veias e causar entupimento das artérias, afetando o coração. Há também problemas relacionados à circulação devido à inflamação gerada no tecido adiposo. Além disso, a obesidade favorece alguns tipos de câncer — como endométrio e cólon –, aumenta o risco de insuficiência renal, diabetes e hipertensão arterial.

Quem tem obesidade pode sofrer com anorexia nervosa e bulimia.

Verdade. A depender da conduta restritiva da alimentação, isso pode deflagrar transtornos de alimentação, e entre eles estão a anorexia nervosa e a bulimia.

A obesidade está relacionada ao hipotireoidismo.

Mito. É muito raro a obesidade ser causada pelo hipotireoidismo — que é a redução da produção dos hormônios da tireoide que regulam a velocidade com que ocorrem as reações do organismo e os gastos de energia. Quando essa velocidade está reduzida, existe uma dificuldade maior de gasto de energia e, portanto, uma tendência maior a ganho de peso e dificuldade de perdê-lo. Portanto, o transtorno de tireoide pode trazer dificuldades de perda de peso, mas não necessariamente levar à obesidade.

Os medicamentos prescritos sob supervisão são seguros para tratar a obesidade.

Verdade. Para tratar qualquer tipo de doença, os medicamentos passam por robustos testes de segurança. Ao tratar a obesidade, o médico irá pesar o risco potencial da doença versus o risco potencial do medicamento. Existem medicações que podem aumentar a pressão arterial, dar dor de cabeça, alterar o ritmo intestinal, entre outros fatores. Assim, o medicamento só é indicado quando o risco da doença é maior. Eles precisam ser tomados sob supervisão e o paciente deve ser acompanhado a longo prazo.

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