O Brasil está mais diabético? Conheça os motivos do  avanço da doença

A incidência de diabetes na população vem crescendo exponencialmente. Neste artigo, explicaremos o porquê de o diabetes estar se tornando uma crise mundial

O último atlas da Federação Internacional de Diabetes (IDF) confirmou que o diabetes é um dos maiores desafios do século 21 para a saúde mundial. Hoje, existem 588 milhões de adultos convivendo com a doença ao redor do mundo – a previsão é de que, em 2050, esse número salte para 852 milhões. 

Nos últimos 25 anos, esse índice mais que triplicou, mostrando que a doença vem tomando proporções preocupantes, mesmo em países onde a incidência era baixíssima.

Na América do Sul, o Brasil é o país com o maior número de diabéticos. Hoje, são 17 milhões de pessoas com a doença e a tendência é de que em 25 anos sejam 24 milhões.

Para entender os motivos, primeiro é preciso entender o que é a doença e quais são seus tipos.

O que é diabetes?

O diabetes é uma doença metabólica séria e crônica que ocorre quando a insulina – substância que faz a regulação dos níveis de glicemia – produzida por uma pessoa é insuficiente ou má absorvida pelo corpo.

Existem três tipos de diabetes:

Diabetes tipo 1

Ocorre quando o sistema imunológico ataca as células que produzem a insulina, atrapalhando sua produção e, consequentemente, permitindo que as taxas de glicose no sangue fiquem altas. Ou seja, é uma doença autoimune.

“Esse é mais frequente em crianças e adultos jovens e tem um fator genético, uma predisposição, mas não é, necessariamente, hereditário” diz Tarissa Petry, endocrinologista do Centro Especializado em Obesidade do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.

Diabetes tipo 2

Representando 90% dos casos no mundo, acontece quando o corpo para de responder à ação da insulina — a chamada resistência insulínica. Isso pode acontecer por motivos como obesidade, má alimentação e sedentarismo. 

Essas condições fazem com que o pâncreas, órgão onde a insulina é produzida, acelere a secreção e, em determinado momento da vida, comece a falhar. 

Segundo o Diabetes Atlas, o tipo 2 pode ser evitado ou adiado, já que suas causas são principalmente comportamentais, e há evidências de que a remissão pode ser possível nos estágios iniciais da doença.

Diabetes gestacional

Uma condição metabólica que acontece durante a gestação devido à resistência insulínica causada pelos hormônios da gravidez. Pode ocorrer em uma a cada cinco gestações.

O que vem contribuindo para o crescimento do diabetes?

Para Petry, muitos fatores estão relacionados ao crescimento exponencial da doença. “Entre eles estão o aumento de peso e envelhecimento da população, o excesso de consumo de alimentos calóricos e industrializados e o sedentarismo. E, é claro, a predisposição genética é também um fator importante”, comenta.

Hoje, 47% dos adultos brasileiros são considerados sedentários, segundo o IBGE. Entre os jovens, o número chega a 84%. A obesidade subiu de 12% a 22% da população em 16 anos – até 2030, o número de homens com obesidade pode aumentar em 33,4%, e o de mulheres, em 46%.

Assim, a maneira que a sociedade vem caminhando afasta as populações de hábitos saudáveis, como uma alimentação mais natural, sem tantos ultraprocessados, e da prática frequente de exercícios físicos.

Já é possível ter qualidade de vida com diabetes

A endocrinologista afirma que esse diagnóstico não impede o indivíduo de viver bem: “A pessoa com diabetes que adere às orientações e às medicações prescritas tende a progredir muito bem, principalmente com toda a evolução do arsenal terapêutico e tecnologias disponíveis atualmente.”

O prognóstico pode ser muito bom ao manter uma alimentação mais natural possível, sem ultraprocessados, praticar exercícios físicos regularmente e procurar um peso saudável.

Esses hábitos atuam diretamente no controle da glicemia e na saúde cardiovascular do paciente. 

Futuro do diabetes

Petry lembra que há muito investimento em pesquisa em diabetes, tanto do tipo 1 quanto do tipo 2. “Temos visto lançamentos de muitas tecnologias de monitoramento de glicose, insulinas de maior duração ou ultrarrápidas, sistemas de infusão de insulina, novas medicações para o diabetes tipo 2 com benefícios de perda de peso e melhora metabólica” lista. 

Existem também políticas públicas, principalmente para o diabetes tipo 2: programas de educação, algumas medicações, insulinas e tiras de glicemia estão no sistema público. 

“No entanto, ainda precisamos dar acesso a medicações com maior eficácia em perda de peso para quem tem diabetes tipo 2 e a novas tecnologias como monitoramento contínuo de glicose. Além disso, seria muito importante ter programas de diagnóstico precoce”, finaliza.

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