Rita Lobato Lopes, Maria Odília Teixeira e Nise da Silveira: no Dia Internacional da Mulher, conheça as médicas brasileiras pioneiras no exercício da profissão

O 8 de março, Dia Internacional da Mulher, é sempre um momento de reflexão. É hora de pensar naquelas que vieram antes e abriram portas para que, hoje, as mulheres do presente possam ocupar posições antes inimagináveis e demonstrar constantemente sua capacidade de entrega e transformação.
Ainda estamos longe do patamar ideal. Muito avanço já aconteceu, mas ainda há batalhas desafiadoras em torno de igualdade nos salários, responsabilidades e direitos. Contudo, se no presente existem inovações nos cuidados da saúde da mulher, muito se deve a médicas pioneiras do Brasil.
Neste dia, vamos celebrar a memória e o legado dessas profissionais que se fizeram presentes e contribuíram para a transformação da nossa história. Conheça a seguir Rita Lobato Velho Lopes, Maria Odília Teixeira e Nise da Silveira, as pioneiras da medicina brasileira.
De obstetra a vereadora: a trajetória de Rita Lobato Velho Lopes
Filha de fazendeiros e estudante talentosa, Rita Lobato nasceu no Rio Grande do Sul e cursou Medicina na Universidade Federal da Bahia (UFBA), onde se formou em apenas 4 anos em um curso de 6 anos.
Ainda na faculdade, a médica já demonstrava seu interesse pela obstetrícia. Seu trabalho de conclusão de curso “Parallelo entre os méthodos preconizados na operação cesariana” foi publicado em 1887, quando ela tinha apenas 21 anos.
De volta ao Rio Grande do Sul, ela atuou como obstetra atendendo mulheres de todas as classes sociais até a sua aposentadoria. Rita oferecia consultas e fornecia remédios de graça, motivada pelo cuidado com suas pacientes acima de tudo.
Além da atuação como médica, era militante de movimentos feministas e lutou pela defesa do voto feminino. Foi eleita vereadora no município de Rio Pardo (RS) em 1934, local onde viveu até o fim da sua vida.
Rita foi uma figura inspiradora que ajudou a traçar um rumo para a próxima geração de aspirantes a médicas. Ela superou o preconceito e diversas barreiras que dificultavam a participação feminina na profissão, usando o espaço que ocupava para fomentar a saúde e inspirar gerações de médicas até os dias de hoje.
Maria Odília Teixeira: a primeira médica negra do Brasil
O ano era 1909 e o país ainda amargurava as consequências de uma abolição tardia da escravatura. Foi, também, o ano em que Maria Odília Teixeira, baiana de São Félix do Paraguaçu, contra todas as estatísticas, tornou-se a primeira mulher negra a se formar em medicina.
Ela era filha do também médico José Teixeira que, apesar da profissão, tinha origem humilde. Além de médica, foi também a primeira professora negra da Faculdade de Medicina da Bahia. Maria Odília falava cinco línguas fluentemente, e foi pioneira na pesquisa da cirrose. Envolvida na política, foi uma voz importante na luta contra o totalitarismo e viu o seu esposo ser preso em 1964 pela Ditadura Militar.
Maria Odília morreu em 1970, aos 86 anos, e é um exemplo de representatividade até hoje em um país com apenas 3% de médicos pretos e 24% de pardos, segundo dados do levantamento Demografia Médica do Brasil, realizado pela USP.
Nise da Silveira: a médica pioneira nos cuidados de saúde mental
Nise da Silveira se tornou conhecida a partir dos anos 1940, quando trabalhava no Centro Psiquiátrico Nacional Pedro II, no Rio de Janeiro, onde dirigia o setor de terapia ocupacional.
Desde aquela época, sua bandeira era a humanização dos cuidados de saúde mental e combate às técnicas agressivas, como a lobotomia e o eletrochoque, comuns na época.
No lugar de métodos invasivos e debilitantes, Nise trabalhava com arte, reinventando o próprio departamento e seus procedimentos, incluindo pintura e modelagem como terapias de recuperação dos pacientes.
Um dos nomes mais importantes da psiquiatria brasileira e pioneira do que hoje conhecemos como luta antimanicomial, ela acreditava que os seus pacientes pudessem ressignificar a leitura de si e sua conexão com a realidade por meio de expressões criativas. Tudo isso em uma época dominada por homens e abordagens agressivas de tratamentos.
O legado de Nise segue vivo e ainda se faz presente onde, hoje, existe psiquiatria humanizada baseada na arte, na criatividade e sem uso excessivo de medicamentos.
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