Dia das Mães: como enfrentar o esgotamento materno e promover o autocuidado

Entenda como a sobrecarga pode prejudicar a saúde mental das mães e conheça os principais sinais de alerta

Trabalhar fora de casa, cuidar dos filhos, limpar a casa, lavar roupas, ir ao supermercado, pagar as contas, cuidar dos idosos, levar e buscar na escola, cozinhar e, se sobrar tempo, talvez haja espaço para o autocuidado e o lazer. Essa é a realidade da maior parte das mães brasileiras. Segundo o IBGE, elas dedicam, em média, 9,6 horas semanais a mais que os homens exclusivamente aos afazeres domésticos e aos cuidados com a família.

De acordo com Patrícia Bader, psicóloga da Maternidade São Luiz Star e gestora de Serviços de Psicologia da Rede D’Or em São Paulo, o motivo da sobrecarga materna está na atribuição do cuidado exclusivo à mulher.

“Mulheres que também são mães frequentemente vivem essa sobrecarga porque, culturalmente, a elas é atribuída a responsabilidade principal pelos filhos e pela vida doméstica. Os homens, na maior parte das vezes, aparecem como ‘ajudantes’, e não como co-responsáveis”, afirma.

Neste Dia das Mães, vamos refletir sobre essa exaustão materna e os problemas de saúde mental que ela traz consigo — e mostrar estratégias para que essas mães consigam inserir o autocuidado na rotina.


Dia das Mães: uma reflexão sobre os papéis familiares

Já parou para pensar que, quando vemos uma notícia ou observamos uma criança que fez algo inadequado, automaticamente nos perguntamos: “onde está a mãe dessa criança?” Evocar a responsabilidade materna — em vez dos pais ou de outros membros da família — faz parte do imaginário coletivo quando se fala em tarefas relacionadas ao cuidado familiar.

Os dados escancaram a discrepância. Em 2022, a média de horas dedicadas ao cuidado dos filhos foi estimada em 17 horas semanais, ligeiramente acima de 2019 (16,8 horas). A mulher não ocupada (sem trabalho externo) dedicou, em média, 24,5 horas semanais a afazeres domésticos e/ou cuidados com pessoas, enquanto o homem não ocupado dedicou apenas 13,4 horas — segundo o mesmo estudo do IBGE.

Fazem parte dessa balança injusta aspectos sociais e culturais, que atribuem à mulher a responsabilidade exclusiva pelo cuidado com o lar e a família. E aí, não sobra tempo nem energia para cuidar da saúde dela própria, especialmente da saúde mental.

“Antes de pensarmos em como essa mãe sobrecarregada pode cuidar da sua saúde mental, é fundamental perguntar: por que ela está sobrecarregada? Quem está ao lado dela? Como as responsabilidades estão divididas? O cuidado com os filhos e com a casa também são jornadas — tão exigentes quanto qualquer trabalho formal — e precisam ser reconhecidos como tal”, acrescenta a psicóloga.

Esse ponto é reforçado por Juliano Nogara, psiquiatra e integrante do Corpo Clínico do Hospital São Vicente de Paulo de Passo Fundo. “As mães, como mulheres, acabam responsáveis pelo cuidado na família, acumulando jornadas além do trabalho, o que causa esgotamento”.

Como as mães podem encontrar espaço para o autocuidado?

Cuidar da saúde mental não pode ser mais um fardo na extensa lista de afazeres da mulher. É preciso repartir as tarefas, revisar os papéis familiares e permitir que a mãe possa existir para além das funções que exerce. É nisso que acredita Bader.

“Só assim o autocuidado se torna possível — e, mais do que isso, legítimo. O papel dos pais e do restante da família é o de se colocarem como adultos responsáveis dentro de uma organização coletiva. Hoje, entendemos que qualquer pessoa pode exercer qualquer função no cuidado familiar, e que a distribuição de responsabilidades precisa ser combinada entre os membros do núcleo familiar”.

Nogara completa dizendo que cuidar das crianças e evitar a exaustão da mãe é papel de toda a família. “Devem-se organizar alternativas, baseando as decisões do cotidiano da família na sua realidade atual, e pensar em soluções para que a mãe se mantenha em segurança e num ambiente afetivo e acolhedor, tendo suporte para si e para seus filhos em situações mais estressantes”.

Apenas nesse contexto é possível avançar no autocuidado e falar em atitudes que as mães podem, individualmente, tomar para cuidar da saúde mental. O psiquiatra cita alguns exemplos: “As evidências científicas demonstram que exercício físico, modificação na dieta, aumento da rede de apoio social e da sociabilidade impactam positivamente o estilo de vida e melhoram, de forma global, sua saúde mental”.

Burnout materno: conheça os sinais vermelhos

Antes ou durante o processo de sofrimento psíquico, a pessoa dá alguns sinais. De acordo com Patrícia Bader, os mais comuns são:

  • Irritabilidade constante;
  • Esquecimento ou dificuldade de concentração;
  • Alterações no sono (insônia ou excesso de sono);
  • Impaciência com tarefas simples;
  • Sensação de cansaço físico e mental persistente;
  • Perda de interesse por atividades que antes eram prazerosas;
  • Sentimento de culpa ou incapacidade.

“Esses indícios não devem ser ignorados. O primeiro passo é reconhecê-los e entender que ninguém deveria sustentar sozinha a responsabilidade pela vida familiar. Buscar ajuda profissional é fundamental — mas tão importante quanto isso é a reorganização interna da rotina, com o compartilhamento real das responsabilidades entre os adultos”, reforça a psicóloga.

Como a mãe pode cuidar da saúde mental na prática?

  • Organizando a agenda

De acordo com a psicóloga, isso não significa apenas rearranjar os compromissos, mas também as expectativas em relação a eles.

“Muitas vezes, a exigência que uma pessoa impõe a si mesma está diretamente ligada a uma ideia idealizada de desempenho. É preciso lembrar: a resposta nem sempre será ideal — e tudo bem. Ela precisa ser possível. Permitir-se viver dentro do possível já é um grande passo para o bem-estar”, diz.

  • Reservando momentos de cuidado real

Apesar de a ideia de autocuidado ser frequentemente associada à beleza e ao skincare, cada pessoa tem sua maneira de se sentir bem — desde praticar exercícios físicos e ler até conviver com amigos, ter espaços de troca e se expressar criativamente.

“O importante é reconhecer suas fontes de prazer e colocá-las de forma intencional e visível na agenda”, reforça.

  • Priorizando o autocuidado

“Cuidar de si não pode ser uma sobra de tempo. Precisa ser uma prioridade legítima, assumida como parte da vida — e não como um luxo”, finaliza Bader.


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