Crianças e telas: qual é o limite do uso saudável do celular?

A recente proibição por lei do uso de celulares por alunos nas escolas brasileiras reacendeu o debate sobre o vício em telas por crianças e as discussões sobre o nível de exposição aceitável. Descubra o que recomenda um especialista no assunto

Ser jovem em 2025 é muito diferente do que era até o início dos anos 2000. Se antes havia um consumo moderado de TV e computador, com o tempo dividido entre os membros da casa, o videogame tinha hora marcada e a brincadeira de rua ainda fazia parte do lazer das crianças, hoje, o cenário é completamente diferente. A bola perdeu espaço para os celulares; o pique-pega foi trocado pelos videogames portáteis; e as conversas com os colegas se tornaram virtuais, pelas redes sociais. Cada vez mais, a realidade das novas gerações é experimentada pelo contato cotidiano com o virtual.

Com episódios notórios e amplamente noticiados de crianças viciadas em telas e que apresentam comportamentos nocivos, como o caso do adolescente que deu mais de 40 mordidas no pai em um crise de abstinência, e a realidade dos professores que precisam disputar a atenção dos alunos com os celulares (e perdem), o poder público entrou no jogo. Já está em vigor uma lei sancionada pelo Congresso Nacional que restringe o uso de celulares nas escolas.

Tendo em vista esse cenário, qual é a visão dos especialistas sobre o assunto? Quanta tela é tela demais, e qual o limite para ceder e não isolar os filhos do mundo?

Conversamos com o psiquiatra infantil do Hospital Márcio Cunha, Arthur Guilherme Lobato de Castro, para refletir sobre o consumo de telas entre as crianças e adolescentes e as recomendações de uso saudável.

Proibição de celulares nas escolas: a medida é positiva?

Um artigo da revista científica FIMCA destacou que o aumento do uso de telas durante o período de pandemia de Covid-19, em virtude do isolamento social, afetou, de forma mais danosa, o público infanto-juvenil. “O excesso desencadeia comportamentos e alterações que afetam negativamente o desenvolvimento, a aprendizagem e os aspectos psicológicos das crianças”, defende o artigo.

Esse e outros estudos comprovam que o excesso de telas traz, sim, prejuízos, especialmente para seres humanos em desenvolvimento. E isso ficou ainda mais evidente no pós-pandemia. No entanto, a nova lei tem gerado controvérsia entre os responsáveis e enfrenta muita resistência das crianças. 

Na visão do especialista, as restrições de tempo no celular são positivas. “É preciso reduzir a exposição às telas e melhorar uma coisa que é muito importante: a socialização. Crianças e adolescentes precisam socializar, e não apenas no digital”, afirma Castro.

O psiquiatra ainda pontua que essa é a premissa básica da construção de maturidade e inteligência emocional. “A socialização por meio de conversas no mundo real, cara a cara, nos ajuda a compreender melhor o mundo e o outro através da linguagem não verbal. Essa interação é primordial para o desenvolvimento da inteligência emocional”, destaca.

Excesso de telas: os principais danos

Apesar das telas serem aliadas dos pais em alguns momentos – inclusive educacionais  -, existem consequências danosas do uso exacerbado, para além dos prejuízos na socialização já citados, como o ganho de peso e falta de coordenação motora.

“As crianças estão ficando cada vez mais sedentárias e, com isso, começam a ganhar peso e ter outros problemas como alteração de sono, transtornos alimentares, hipertensão e até diabetes.”

O problema mais grave, segundo o psiquiatra, é quando os pais percebem esse excesso e tentam reverter a situação, privando esses jovens das telas. “As crianças ficam muito irritadas quando são privadas. Apresentam alterações do sono e há uma piora nos aspectos psiquiátricos”, diz.

Quais são as recomendações sobre o uso de telas?

Com todos os prejuízos apresentados, quer dizer que o uso de telas deveria ser completamente proibido às crianças e adolescentes? De acordo com o especialista, não. O segredo está na intensidade e na forma como as telas são usadas.

Mas Castro faz um alerta importante: “O principal é que a tela não seja usada como uma moeda de troca. Exemplo: ‘se você fizer isso, você ganha a tela’. O uso tem que ser estipulado, com horário para iniciar e para acabar.”

A Sociedade Brasileira de Pediatria traz algumas orientações sobre o número de horas de tela em cada faixa etária. Como explicado a seguir:

  • Bebês de 0 a 2 anos: não oferecer telas, mesmo que seja passivamente;
  • Crianças de 2 a 5 anos: no máximo uma hora por dia, de forma contínua ou sem interrupções;
  • Crianças de 6 a 10 anos: de uma a duas horas por dia
  • Adolescentes de 11 a 18 anos: limitar telas e videogames a duas ou três horas por dia, sempre com supervisão, e nunca “virar a noite” jogando.

Em suma: o controle sobre as horas de uso de telas é essencial para o desenvolvimento mais saudável das crianças – mas a limitação completa também não vai trazer benefícios. Encontrar o equilíbrio (e não viver em pé de guerra) é um dos grandes desafios para os pais, mães e responsáveis que antes podiam apenas tirar o cabo da internet na hora de dormir. 

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