Como a relação entre o intestino e a saúde mental afeta seu bem-estar

Existe uma conexão entre o intestino e o cérebro? A ciência mostra que sim – e essa relação é mais direta do que parece à primeira vista

Você já percebeu que, quando sua saúde mental não está bem, seu intestino também sofre? Ou já ouviu falar de pessoas que, diante de um estresse intenso, sentem desconforto intestinal imediato? Isso não é coincidência, mas um fato comprovado cientificamente. O intestino e o cérebro estão diretamente ligados, e o bom funcionamento intestinal influencia diretamente a saúde mental.

Estudos indicam que a microbiota intestinal desempenha um papel essencial na produção de neurotransmissores, como serotonina e dopamina, responsáveis pelo humor e bem-estar emocional. “Hoje, há diversas pesquisas mostrando essa forte conexão entre cérebro e intestino. Temos mais neurônios no intestino do que no próprio cérebro”, explica a gastroenterologista Vera Angelo Andrade, professora da pós-graduação em Doenças Funcionais e Manometria do Aparelho Digestivo do Einstein.

As bactérias do intestino e a saúde mental

O equilíbrio da microbiota intestinal tem impacto direto no bem-estar emocional. Segundo Andrade, há uma explicação química para isso.

“Quando ocorre uma disbiose (desequilíbrio das bactérias intestinais), o intestino passa a funcionar mal, aumentando a quantidade de bactérias nocivas em detrimento das benéficas. Isso pode levar ao chamado intestino permeável, permitindo que toxinas que deveriam ser eliminadas irritem os neurônios intestinais, que se comunicam com o sistema nervoso central.”

Ou seja, um intestino em desequilíbrio pode afetar a saúde mental. A médica também destaca um reflexo dessa relação na linguagem cotidiana: o termo “enfezado”, que remete tanto à raiva quanto à constipação.

“Quando há intolerância à lactose, por exemplo, a falta da enzima lactase faz com que as bactérias fermentem a lactose, gerando gases, distensão abdominal e desconforto. Toda vez que o intestino não funciona bem, isso pode impactar o estado emocional do paciente”, observa.

Essa relação, aliás, é uma via de mão dupla: a ansiedade e a depressão podem desencadear sintomas intestinais, como diarreia. “Se o paciente tem diarreia, fica ansioso e evita sair de casa, o que pode agravar o quadro emocional”, acrescenta.

Estudos ainda preliminares investigam a relação da microbiota com doenças neurológicas degenerativas. “Ainda não há conclusões definitivas, mas há pesquisas sugerindo que o equilíbrio ou desequilíbrio das bactérias intestinais pode estar relacionado a doenças como Parkinson, depressão e ansiedade. Esse é um campo em expansão”, complementa Andrade.

Como identificar e tratar desequilíbrios intestinais?

O primeiro passo é a observação. Cada organismo tem seu próprio ritmo, mas mudanças repentinas e recorrentes no funcionamento intestinal podem ser um sinal de alerta. Caso perceba essa relação com sua saúde mental, busque orientação médica.

Hoje, existem exames rápidos para avaliar a flora intestinal, como o teste de supercrescimento bacteriano. “Através de testes de sopro, conseguimos medir a produção de gases na respiração e identificar desequilíbrios. Se confirmado, o tratamento pode envolver antibióticos para reduzir as bactérias nocivas, seguidos da reposição de probióticos”, explica a especialista.

Além disso, check-ups regulares – incluindo exames de sangue, fezes e até mesmo a colonoscopia – ajudam a detectar possíveis irregularidades precocemente.

Como prevenir problemas intestinais e melhorar a saúde mental?

Diversos fatores influenciam o funcionamento intestinal, desde a produção de enzimas até hábitos alimentares e comportamentais, como comer rapidamente.

Manter uma dieta equilibrada é essencial para a saúde do eixo cérebro-intestino. Alimentos ricos em fibras, probióticos e fermentados favorecem a microbiota intestinal. As fibras, presentes em frutas, vegetais e grãos integrais, estimulam o crescimento das bactérias benéficas e ajudam a manter esse equilíbrio.

No fim das contas, um intestino saudável não garante, por si só, uma boa saúde mental – mas um funcionamento equilibrado certamente contribui para o bem-estar geral.

Março Azul: previna-se contra o câncer de intestino

Março é o mês de conscientização e prevenção do câncer de intestino, um alerta para a importância de cuidar da saúde digestiva.

Manter hábitos saudáveis reduz os riscos da doença. Fatores como tabagismo, consumo excessivo de álcool e gordura, sedentarismo e obesidade aumentam as chances de desenvolvimento, especialmente após os 50 anos ou com histórico familiar.

Exames como colonoscopia e Teste FIT são essenciais para a detecção precoce. Se identificado no início, o câncer de intestino tem até 90% de chance de cura.

Matérias
relacionadas