Alterações no meio ambiente e no funcionamento do planeta podem afetar nossa saúde de diversas formas. Entenda quais

Quando falamos de meio ambiente, costumamos pensar na natureza e na preservação das espécies de forma distante, como se os impactos das mudanças climáticas não chegassem até nós de forma prática. No entanto, não é “só” o planeta que sofre. Mas “a saúde da população está altamente relacionada às mudanças climáticas”, conforme afirma Roberto Gonzales, Governance Officer do Sabará Hospital Infantil.
De acordo com Gonzales, embora a expectativa de vida das pessoas venha aumentando nas últimas décadas por conta da evolução da medicina, vacinas e saneamento básico, os impactos das mudanças climáticas já podem ser observados.
Hoje, essas mudanças já causam cerca de 150 mil mortes por ano, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), e esses índices devem dobrar nos próximos cinco anos.
Os impactos do calor excessivo no corpo
Com as recentes ondas de calor, é possível observar um aumento considerável em casos de desidratação, insolação e problemas cardíacos. “Idosos e crianças são os que mais sofrem com isso”, diz Gonzales.
O número de mortes por hipertermia (quando o corpo superaquece) tende a aumentar, inclusive em países desenvolvidos do hemisfério norte.
“O hemisfério norte fez muita estrutura arquitetônica contra o frio, criando sistemas de calefação, e agora eles não estão preparados para lidar com essa onda de calor. Então, com certeza iremos observar uma diminuição no número de mortes por frio, e será possível ver pessoas morrendo de calor — algo que não se esperava antes”, pontua o Governance Officer.
Ar e água em risco
Com o aumento da frequência das queimadas, a qualidade do ar é afetada, gerando impactos na saúde respiratória da população — incluindo males como asma e bronquite.
As mudanças climáticas também têm um efeito direto no ciclo da água, causando de inundações a secas, o que pode afetar o fornecimento de água potável, entre outras complicações.
Além disso, países que dependem da água para geração de energia, como o Brasil, podem sofrer com problemas de abastecimento, aumentando o custo desse recurso.
Aumento na proliferação de vetores de doenças
O calor, a chuva excessiva e a umidade também beneficiam a proliferação de mosquitos, inclusive o Aedes aegypti, responsável pela transmissão da dengue, zika, chikungunya e malária. Em temperaturas mais altas, esses vetores se tornam ainda mais ativos, aumentando sua reprodução e o número de picadas.
Essas condições ambientais também favorecem o surgimento desses transmissores em lugares novos, onde antes não havia qualquer registro prévio dessas doenças. Um exemplo disso são países como Afeganistão, Paquistão, Sudão, Somália e Iêmen, que registraram seus primeiros casos em 2023, de acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas).
Além desses países, regiões frias do Brasil que tinham baixa incidência de dengue agora estão enfrentando esse problema com mais frequência, segundo o Ministério da Saúde.
Insegurança alimentar
Com o aumento das temperaturas do planeta, o cultivo de alimentos se torna muito mais desafiador e incerto. As ondas de calor podem causar maiores períodos de seca ou inundações, colocando em risco todo o ciclo da agricultura.
A professora de ecologia da Universidade de Brasília, Mercedes Bustamente, disse, em 2024, durante uma plenária do Conselho Nacional de Segurança Alimenta – o Consea, que o aumento da frequência e da intensidade de inundações, secas, tempestades e eventos extremos pode levar a interrupções consideráveis nas cadeias de suprimento de alimentos, por meio de comprometimento no plantio e colheita e danos à infraestrutura. ” Ou seja, a mudança climática tem um impacto direto e significativo sobre a segurança alimentar e nutricional”, afirmou.
Prejuízos como esses nas safras têm correlação direta com a disponibilidade dos alimentos e, portanto, com o aumento expressivo dos preços. Isso prejudica o acesso das pessoas a esses produtos — o que pode impactar negativamente a saúde nutricional da população.
Saúde mental em xeque
Experiências com desastres naturais, doenças, insegurança hídrica e alimentar impactam diretamente a saúde mental de quem as vive. Por isso, além dos impactos físicos, a população pode estar mais exposta a sofrimento mental e psicossocial.
Qual a causa disso tudo?
Todos os eventos climáticos extremos que estão sendo observando, como as inundações, o calor excessivo e os períodos de seca mais longos, estão intimamente ligados ao superaquecimento do planeta.
Carlos Nobre, o primeiro climatologista brasileiro a entrar para o Planetary Guardians, comenta em entrevista concedida à Anahp – Associação Nacional de Hospitais Privados que “a ciência não deixa dúvidas de que o fator principal são os gases de efeito estufa que jogamos na atmosfera, resultado das atividades industriais, agricultura e desmatamento”. Segundo Nobre, são estimados mais de 59 bilhões de toneladas desses gases por ano, sendo quase 70% provenientes de combustíveis fósseis e 23% da agricultura e desmatamento. “Esses gases funcionam como um cobertor na atmosfera, retendo calor e impedindo que a Terra esfrie como antes”, explica o especialista.
Todas essas consequências apenas reforçam que nós, os seres humanos, não estamos apartadas do meio ambiente – mas somos parte dele. Por isso, é emergencial que políticas públicas sejam criadas para que o futuro do planeta, e da nossa saúde, seja sustentável.
Quer saber mais sobre os impactos da emergência climática na saúde? Acesse a publicação ESG nos hospitais Anahp. A edição mais recente traz a entrevista completa com Carlos Nobre, apresenta dados consistentes sobre a relação entre saúde e mudanças climáticas e mostra ações já aplicadas com o objetivo de mitigar esses efeitos.