AVC é uma das principais causas de limitações em fala e movimentos do mundo

90% dos casos poderiam ser evitados com atitudes simples, como combater a hipertensão, o tabagismo, a obesidade e o sedentarismo

O AVC (Acidente Vascular Cerebral) é a segunda causa de morte no mundo. Todos os anos, cerca de 15 milhões de pessoas sofrem um AVC e, entre elas, 5 milhões morrem e outras 5 milhões ficam com sequelas. A estimativa é que 101 milhões de pessoas vivem atualmente com as limitações impostas após o AVC, , o que torna a doença uma das principais causas de incapacidade no mundo, segundo a Organização Mundial do AVC e Sociedade Brasileira de AVC. As complicações mais comuns são perda de visão ou fala, paralisia e confusão.

“Estima-se que, na população brasileira, a incidência seja de um caso de AVC a cada dois minutos”, afirma Bruno Badia, neurologista do Hcor, em São Paulo.

A maioria dos casos de AVC ocorre na população acima de 55 anos. Muitos dos fatores de risco estão relacionados a problemas de saúde e estilo de vida que são mais recorrentes nessa parcela da população, como hipertensão, tabagismo, obesidade e sedentarismo.

Mas vêm chamando a atenção o fato de que mais pessoas com menos de 45 têm sofrido AVC – e isso acontece porque os fatores de risco tem se tornada cada vez mais comuns entre os mais jovens. Antes da pandemia de Covid-19, apenas 10% dos casos de AVC aconteciam dentro dessa faixa etária. Após a crise sanitária, o percentual subiu para 18% — hoje, cerca de 2 milhões de pessoas de 18 a 50 anos sofrem um AVC todos os anos.

E a previsão não é otimista: os casos deverão crescer em 50% nos próximos 20 anos. Mas 90% poderiam ser evitados com atitudes simples, como combater os fatores de risco. Por isso, é fundamental manter bons hábitos para minimizar as chances de AVC, independentemente da idade. 

*Dados: OMS (Organização Mundial de Saúde), Organização Mundial do AVC, Sociedade Brasileira de AVC e Ministério da Saúde. 

O que é o AVC?

O Acidente Vascular Cerebral ocorre quando os vasos sanguíneos se rompem ou entopem, deixando uma área do cérebro sem oxigenação.

Segundo Wesley Moreira Vieira, neurologista do Hospital Márcio Cunha, as células localizadas após o vaso danificado começam a sofrer porque param de receber nutrientes e oxigênio. “E, com isso, nós temos a morte de milhões de neurônios a cada minuto”, explica.

Há dois tipos de AVC:

  • Hemorrágico: quando a pressão arterial está tão elevada que o vaso se rompe, provocando hemorragia. Ocorre em 15% dos casos e é o que mais leva à morte.
  • Isquêmico: quando há entupimento de uma artéria. Ocorre em 85% dos casos. Vale ficar atento se o nível de colesterol estiver alto, porque as placas de gordura vão se depositando nas paredes dos vasos e podem causar a obstrução. 

Fatores de risco e como prevenir o AVC

A boa notícia é que 90% dos casos de AVC podem ser evitados combatendo os fatores de risco. Os principais deles estão relacionados a estilo de vida e doenças crônicas, como:

  • Hipertensão
  • Diabetes tipo 2
  • Colesterol alto
  • Obesidade e sobrepeso
  • Tabagismo
  • Uso excessivo de álcool
  • Idade avançada
  • Sedentarismo
  • Uso de drogas ilícitas
  • Histórico familiar

De maneira geral, as medidas de prevenção envolvem hábitos de vida saudável e o controle desses fatores de risco, exceto daqueles para os quais não há medidas de prevenção, como o envelhecimento e a predisposição genética. Nesses casos, é preciso ficar atento aos sinais de alerta.

Sinais e sintomas de AVC

Os sintomas mais frequentes do AVC são fraqueza e dormência de um lado do corpo, alteração de fala, perda de equilíbrio, visão dupla e perda de um campo de visão dos olhos, afirma o neurologista do Hcor, Bruno Badia. 

É importante ficar atento à instalação súbita desses sintomas, especialmente se acontecer em apenas um lado do corpo. Nesse caso, o indicado é procurar socorro imediatamente. “Cada minuto importa com o objetivo de salvar uma região cerebral”, diz Badia. Isso porque os tratamentos disponíveis atualmente devem ser feitos de quatro horas e meia a até seis horas do início dos sintomas.

“Infelizmente, uma parcela dos pacientes acaba não sendo beneficiada com o tratamento porque chega ao serviço de emergência com um tempo superior ao permitido para se utilizar a medicação. Por isso, é muito importante que a população conheça os sinais e sintomas sugestivos de AVC e que [o paciente ou pessoas próximas] busquem imediatamente um serviço de referência no tratamento dessa comorbidade”, ressalta o neurologista do Hospital Márcio Cunha, Wesley Vieira.

Limitações e cuidados após o AVC

O AVC pode deixar o paciente com algumas limitações. De acordo com a Sociedade Brasileira de AVC, as complicações mais comuns são:

  • Mudanças nos movimentos: pode haver fraqueza, rigidez muscular, ou dificuldade no controle motor;
  • Piora no equilíbrio e postura corporal;
  • Problemas para engolir;
  • Perda de sensibilidade: a capacidade para sentir o tato, temperatura ou dor pode ser afetada;
  • Dormência, sensação de formigamento;
  • Dor, que pode ser causada pela rigidez muscular ou pelas mudanças na postura devido ao equilíbrio comprometido;
  • Problemas na fala, devido à fraqueza dos músculos ou pela área do cérebro afetada pelo AVC;
  • Problemas de memória e raciocínio;
  • Dificuldade para expressar ideias ou compreender a fala e a escrita, caso essa região do cérebro seja atingida pelo AVC;
  • Alterações emocionais, como ansiedade, depressão, desesperança, falta de ânimo em atividades cotidianas.

Para minimizar os efeitos pós-AVC, é importante que o paciente seja submetido a uma reabilitação, que tem como objetivo ajudar o cérebro a fazer novos caminhos para executar os comandos.

“Neuroplasticidade é a capacidade do tecido cerebral de gerar novas conexões que permitem a recomposição de parte das perdas após uma lesão. É a forma que os neurônios saudáveis encontram de ‘refazer’ caminhos para que o nosso corpo volte a ter a capacidade de executar determinadas ações, como comer sozinho, segurar e mover objetos, falar corretamente, se vestir e caminhar. É um processo lento, variável caso a caso e, muitas vezes, incompleto, mas que pode ser acelerado com terapias de reabilitação”, afirma Badia.

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