Veja o que se sabe até agora sobre o novo coronavírus chinês

Novo vírus foi identificado no início de janeiro na China e já matou mais de 1.500 pessoas

No dia 31 de dezembro de 2019, a OMS (Organização Mundial da Saúde) foi alertada sobre vários casos de pneumonia em Wuhan, na província de Hubei, na China. O vírus parecia desconhecido.

Uma semana depois, as autoridades confirmaram a identificação de um novo coronavírus que estava sendo chamado temporariamente de 2019-nCoV. Na terça (11), a OMS afirmou que o nome da doença respiratória é covid-19.

O surto se tornou mais preocupante com a chegada do Ano-Novo chinês, que é comemorado em 25 de janeiro e faz com que centenas de milhões de pessoas viajem pelo país.

A OMS trabalha com as autoridades chinesas e especialistas do mundo todo para saber mais sobre esse vírus, como ele afeta as pessoas, como deve ser o tratamento e o que os países podem fazer para responder a essa crise.

Até a quinta (13), 1.523 pessoas morreram, 1.521 delas na China —também houve uma nas Filipinas e uma no Japão — e mais de 66 mil tiveram confirmação da infecção em diversos países.

Nesse mesmo dia, as autoridades chinesas mudaram o método de contagem e expandiram os critérios de contaminação. Agora, uma radiografia do tórax é suficiente para confirmar casos suspeitos.

Veja o que se sabe sobre o caso até agora.

O QUE É CORONAVÍRUS?

É uma família de vírus que podem infectar animais e seres humanos e causar doenças respiratórias que variam de resfriados comuns até a Sars (síndrome respiratória aguda grave).

Seu nome vem dos picos de suas membranas que lembram uma coroa.

O novo coronavírus covid-19 identificado na China em janeiro de 2020 é cerca de 80% idêntico geneticamente ao da Sars (que deixou milhares de pessoas doentes e matou cerca de 800 durante uma epidemia em 2002 e 2003) e mais próximo ainda de diversos coronavírus presentes em morcegos, segundo estudo no portal aberto bioRxiv.

QUÃO PERIGOSO ELE É?

Autoridades de saúde no mundo todo estão alarmadas, mas é difícil avaliar a letalidade de um novo vírus com rapidez.

“Todo quadro traçado numa hora como esta tende a subestimar o total de infectados, porque primeiro você só enxerga os casos mais graves”, diz o infectologista Esper Kallás, da Faculdade de Medicina da USP.

Ainda não está claro com que facilidade o covid-19 é transmitido de pessoa para pessoa. Seu N0 (número de quantas novas pessoas, em média, são infectadas por cada doente) está numa faixa de 1,5 a 3,5, segundo as estimativas feitas até agora. Ele parece se equipar ao dos vírus da gripe e provavelmente supera o vírus da dengue, cujo número nunca chega a 2. O N0 do sarampo, por exemplo, é 20.

Especialistas também destacam que o balanço de mortos ainda é relativamente baixo. Pelos dados iniciais publicados, a estimativa inicial é de que a letalidade seja em torno de 2% a 3%.

Se o número de infectados assusta —até agora são mais de 66 mil infectados no mundo—, é preciso levar em conta que, todos os anos, gripes e pneumonias matam por ano 80 mil pessoas no Brasil. Nos EUA, 200 mil pessoas são internadas com gripe nos EUA e cerca de 35 mil morrem.

COMO ELE É TRANSMITIDO?

Provavelmente o novo coronavírus é transmitido através de tosse e espirro, assim como outros vírus respiratórios.
Os cientistas ainda estão tentando entender quão facilmente ele é passado para outras pessoas. Uma análise de uma família infectada publicada na revista médica Lancet sugere que o vírus passou de uma pessoa doente para outras seis; só duas delas tiveram contato com o doente inicial.

Segundo a OMS, a fonte primária do surto tem origem animal, e as autoridades de Wuhan disseram que o epicentro da epidemia era um mercado de peixes e animais vivos.

Mais tarde, ficou provado que o vírus se espalhou entre seres humanos que não tiveram contato com o mercado.
O Centro Chinês de Controle e Prevenção de Doenças analisou 198 casos confirmados de infecção em Wuhan e descobriu que 22% das pessoas tiveram contato direto com o mercado de peixes e 32% tiveram contato com pessoas que estavam com febre ou tinham uma doença respiratória. Metade delas, porém, não teve contato nem com o mercado nem com qualquer pessoa doente. Dezesseis profissionais da saúde se infectaram ao cuidar de pacientes.

QUAL É O PERFIL DOS INFECTADOS ATÉ AGORA?

Segundo informações preliminares da OMS do dia 22 de janeiro, 72% das pessoas infectadas tinham mais de 40 anos, 64% eram homens e em 40% dos casos os pacientes tinham outras doenças associadas, como diabetes, pressão alta e problemas cardiovasculares. Esses números são relativos a casos encaminhados à OMS nos quais houve hospitalização, o que indica que sejam casos mais graves.

Até meados de janeiro, todos os infectados tinham estado em Wuhan, epicentro da epidemia. O cenário mudou após o surgimento de casos de pessoas infectadas no Japão, na Alemanha, nos EUA e na Tailândia que não viajaram para a região.

Na Alemanha, o paciente é um homem de 33 anos que foi infectado na Baviera (a cerca de 500 km de Berlim) por uma colega que esteve na China. Nos EUA, um homem pegou o vírus de sua mulher, que havia viajado para Wuhan.

As mortes, segundo os dados disponíveis até o momento, também estão concentradas em pessoas mais velhas e que já tinham outras condições clínicas associadas.

A distribuição etária observada até agora, porém, não significa que a doença não afete outras pessoas, mas, sim, que as manifestações mais visíveis estão nos grupos citados anteriormente.

QUAIS SÃO OS SINTOMAS?

Segundo a Sociedade Brasileira de Infectologia, há casos assintomáticos e também infecções de vias aéreas superiores semelhantes ao resfriado (com coriza, febre e dificuldade para respirar) e até casos graves com pneumonia e insuficiência respiratória aguda, com dificuldade respiratória. Radiografias do peito de pacientes infectados apontaram infiltrações nos pulmões.

Crianças, idosos e pacientes com baixa imunidade podem apresentar manifestações mais graves. No caso do covid-19, ainda não há relato de infecção sintomática em crianças ou adolescentes.

Como a China compartilhou com a comunidade internacional o sequenciamento do vírus, os países conseguem confirmar os casos de infecção pelo vírus covid-19.

Em caso de suspeita e de histórico de viagem para os países afetados, especialmente a China, é recomendável procurar um serviço de saúde.

COMO SE PROTEGER?

Segundo a OMS, as medidas protetoras gerais são:

Lavar frequentemente as mãos usando álcool em gel ou água e sabão, especialmente após contato com pessoas doentes e antes de se alimentar

Quando tossir ou espirrar, cobrir a boca e o nariz com as mãos ou lenços descartáveis

Evitar o contato próximo com quem tiver febre e tosse

Em caso de febre, tosse e dificuldade para respirar, buscar ajuda imediata e compartilhar o histórico de viagens com os profissionais de saúde

Manter os ambientes ventilados

Evitar tocar nos olhos, nariz e boca

Máscaras cirúrgicas podem ajudar a limitar o espalhamento de doenças respiratórias, mas por si só não são garantia de prevenção e devem ser combinadas com as medidas de higiene citadas acima, segundo a OMS.

A entidade aconselha o uso racional de máscaras para evitar desperdício, ou seja, usá-las apenas em caso de sintomas respiratórios, suspeita de infecção por coronavírus ou em caso de profissionais que estejam cuidando de casos de suspeita.

EXISTE TRATAMENTO?

Não há um medicamento específico para a infecção. Indica-se repouso e ingestão de líquidos, além de medidas para aliviar os sintomas, como analgésicos e antitérmicos, segundo a Sociedade Brasileira de Infectologia.

Nos casos de maior gravidade com pneumonia e insuficiência respiratória, suplemento de oxigênio e mesmo ventilação mecânica podem ser necessários.

Após questionamentos de usuários das redes sociais, a OMS ressaltou que não é possível utilizar antibióticos para prevenir ou tratar infecção por coronavírus. Os antibióticos funcionam apenas contra bactérias.

ESSA É UMA EMERGÊNCIA DE SAÚDE PÚBLICA INTERNACIONAL?

Sim. A OMS (Organização Mundial da Saúde) anunciou no dia 30 de janeiro que se trata de uma emergência internacional.

A agência usou essa denominação poucas vezes, como no caso do vírus H1N1, ou febre suína (2009), a epidemia do vírus do ebola (2014-2016) e o vírus da zika (2016).

O governo chinês deu ao surto a mesma classificação que a Sars, o que significa quarentena obrigatória para os diagnosticados e uma possível instauração de restrições para viajar.

QUAIS PAÍSES JÁ REGISTRARAM CASOS DO VÍRUS?

O VÍRUS JÁ CHEGOU AO BRASIL? DEVO ME PREOCUPAR?

Não, não há casos confirmados de infecção no Brasil. O Ministério da Saúde acompanha casos de suspeita e divulga diariamente atualizações.

A pasta informa que tem realizado monitoramento diário da situação junto à OMS e que ativou um centro de operações de emergência para monitorar possíveis casos suspeitos.

Entre as ações já adotadas, estão a notificação da área de portos, aeroportos e fronteiras da Anvisa, avisos à área de vigilância do Mapa (Ministério da Agricultura) e notificação às secretarias de saúde.

A Anvisa informou ter enviado recomendações a equipes de vigilância em saúde em portos e aeroportos para reforço no controle de possíveis casos suspeitos de coronavírus. O órgão enviou um documento que orienta equipes destes locais sobre o atendimento de viajantes com sintomas e pede notificação imediata de casos suspeitos, além de intensificação em procedimentos de limpeza e desinfecção de terminais.

POR QUE O BRASIL DECRETOU ESTADO DE EMERGÊNCIA EM SAÚDE PÚBLICA?

O governo Jair Bolsonaro decretou na terça-feira (4) estado de emergência em saúde pública para conter o novo coronavírus. Ele também enviou ao Congresso Nacional um PL (Projeto de Lei) para estabelecer a base para quarentena sanitária no país para os brasileiros que chegaram de Wuhan. O projeto já foi assinado pelo presidente.

A portaria, publicada no DOU (Diário Oficial da União), permite à Secretaria de Vigilância em Saúde solicitar ao Ministério da Saúde a contratação temporária de profissionais de saúde, a aquisição de bens (como equipamentos) e a contratação de serviços.

Os brasileiros estão em quarentena na Base Aérea de Anápolis (GO) e devem permanecer lá por 18 dias.

VOU VIAJAR PARA FORA DO PAÍS. O QUE DEVO FAZER?

A OMS não recomenda nenhuma medida de saúde específica para viajantes além das medidas de proteção gerais já citadas nem qualquer tipo de restrição a viagens para a China ou de comércio com o país com base nas informações disponíveis até agora.

Em caso de sintomas sugestivos de doenças respiratórias antes ou depois da viagem, os viajantes devem procurar ajuda médica e compartilhar seu histórico.

Já o Ministério da Saúde do Brasil desaconselha viagens à China neste momento. “Não sendo estritamente necessário, recomendamos que não façam viagens até que o quadro todo esteja bem definido”, afirmou o ministro Luiz Henrique Mandetta.

POSSO ME CONTAMINAR COM PRODUTOS QUE VENHAM DA CHINA?

A transmissão do coronavírus ocorre de pessoa para pessoa ou de animais para pessoas. Dessa forma, não há riscos de contaminação a partir de objetos.

Segundo Nancy Bellei, consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), mesmo durante a epidemia de Sars, causada por um coronavírus persistente no ambiente, não houve nenhuma recomendação para cuidados especiais com produtos que viessem de países onde tinha transmissão local.

QUE MEDIDAS PREVENTIVAS FORAM TOMADAS EM OUTROS PAÍSES?

O governo chinês impôs restrições de transporte sobre mais de 40 milhões de pessoas em busca da contenção da disseminação do vírus. As medidas, tomadas às vésperas do Ano-Novo Lunar, afetaram cidades da província de Hubei.

A China também vetou grandes aglomerações para a celebração do Ano-Novo em Pequim e fechou pontos turísticos.
Além disso, o governo anunciou a construção de um hospital em Wuhan, epicentro do novo coronavírus, com mil leitos destinados aos cuidados de pessoas infectadas.

Na Tailândia, as autoridades decretaram controles de temperatura corporal obrigatórios para os passageiros procedentes de zonas de alto risco da China.

Medidas similares foram tomadas pelos governos de Hong Kong, onde centenas de pessoas morreram durante a epidemia da Sars entre 2002 e 2003, e Estados Unidos, que estão controlando os passageiros provenientes de Wuhan.

Taiwan, com um caso da doença até sexta (24), emitiu um alerta para os passageiros que viajarem com origem ou destino da província chinesa onde se encontra o foco do problema.

No Vietnã, uma localidade de 10 mil habitantes, Son Loi, localizada a cerca de 30 quilômetros de Hanói, foi colocada em quarentena por 20 dias após a descoberta de seis casos de infecção pelo vírus.

Os Estados Unidos também ordenaram a triagem de passageiros que chegam em voos diretos ou de conexão a partir de Wuhan, inclusive nos aeroportos de Nova York, São Francisco e Los Angeles.

Grã-Bretanha e Itália introduziram um monitoramento aprimorado dos voos a partir de Wuhan, enquanto a Romênia e a Rússia também estão reforçando os controles.

Muitos países fecharam suas fronteiras com a China.

 

Fonte: Folha de S. Paulo
Data: 16/02/2020

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