Aumento de custo médico-hospitalar deve ser de 15%

Patamar deste ano é menor que o de 2019, mas ainda supera em cerca de quatro vezes o IPCA

A inflação médica, que mensura os preços dos serviços médico-hospitalares, deve ficar em 15% neste ano. O indicador é uma das referências para os reajustes dos planos de saúde. O patamar deste ano deve representar uma queda de dois pontos percentuais em relação a 2019, mas ainda supera em cerca de quatro vezes a inflação geral medida pelo IPCA.

Os dados são da consultoria e corretora Aon, que fez o levantamento com base em sua carteira formada por 2,8 milhões de usuários de planos de saúde corporativos, modalidade que representa 65% do mercado.

Este será o segundo ano consecutivo de desaceleração dos custos médicos-hospitalares no Brasil. A performance deve-se, principalmente, à queda da inflação geral, mas também reflete a iniciativa de algumas empresas que estão administrando o convênio médico e a saúde de seus funcionários.

Uma dessas companhias é a GE, que estima para este ano um reajuste de 3,4% nos planos de saúde pós-pagos (valor pago conforme o sinistro) e de 8% nos planos contratados no formato de pré-pagamento (valor fixo) para os seus funcionários. “Hoje, temos programas criados a partir do perfil epidemiológico dos nossos colaboradores”, disse Marcia Agosti, responsável pela gestão de saúde da GE, cuja carteira é formada por 22 mil usuários.

No entanto, casos como o da GE ainda são exceção. A maior parte das companhias que oferece plano de saúde a seus empregados – há 31,8 milhões de usuários de planos corporativos no país – não possui iniciativas nesse sentido.

A inflação médica brasileira é uma das mais altas do mundo. Neste ano, a Aon estima que a variação do custo médico globalmente será de 8% e na América Latina, de 13,1% – percentuais acima dos 15% previstos para o Brasil.

Além da inflação médica, que já é elevada, o cálculo de reajuste do plano de saúde considera também a frequência de uso do convênio que, por sua vez, também vem aumentando nos últimos anos. Segundo a Associação Nacional dos Hospitais Privados (Anahp), entre 2013 e 2018, houve um crescimento anual de 5,4% na utilização do plano de saúde.

Essa alta na frequência chama atenção porque, segundo especialistas do setor, o envelhecimento da população brasileira ainda não atingiu patamares tão elevados a ponto de provocar esse aumento de mais de 5%. Além disso, é cada vez maior o controle sobre o uso do plano, com a cobrança de coparticipação. Também há uma migração crescente para operadoras verticalizadas como Hapvida e NotreDame Intermédica. De acordo com dados da corretora It’s Seg, o paciente de uma operadora totalmente verticalizada realiza 1,1 exame e 0,13 terapia por consulta. Os clientes de operadoras com rede 100% credenciada fazem 4,58 exames e 0,8 terapia a cada consulta médica.

“Temos um sistema de saúde deficitário. Não há um prontuário médico unificado no país que mostre o histórico do paciente. Com isso, ele acaba repetindo consultas, exames e encarecendo o sistema”, afirma Paulo Jorge Rascão Cardoso, vice-presidente executivo de saúde e benefícios da Aon Brasil.

Além da questão estrutural apontada por Cardoso, representantes do setor enumeram outros fatores que contribuem para o maior uso do plano de saúde: o envelhecimento da população, o surgimento de novos tipos de exames, o incentivo a programas de prevenção, que demandam mais exames num primeiro momento, e a ameaça de perda de emprego, que faz o funcionário antecipar os procedimentos médicos.

Outra razão apontada é a maior quantidade de usuários doentes no sistema. Com a crise econômica, muitas pessoas saudáveis abriram mão do plano de saúde. No entanto, essa lógica não se repete com pacientes doentes. É comum que muitos deles, mesmo com problemas financeiros, permaneçam com o convênio, o que acaba desequilibrando o sistema de mutualismo em que os mais saudáveis subsidiam os pacientes doentes.

Não bastasse, o setor de saúde ainda atua num modelo de remuneração de conta aberta (fee for service) – quando um lado ganha, o outro perde. As operadoras, por exemplo, têm maior lucro se hospitais, laboratórios e clínicas tiverem menor receita.

 

Fonte: Valor Econômico
Data: 09/01/2020

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