Com o aumento dos recursos médicos diagnósticos, os pacientes estão tendo mais acesso a exames e procedimentos de baixa e alta complexidade. Se, por um lado, a ampliação das possibilidades para diagnóstico é importante, por outro, pode acarretar no uso desenfreado dessas tecnologias. A ‘Overdose’ de exames ou tratamento, ou seja, o uso sem fundamento e cuja probabilidade de dano é maior do que de benefício, está sendo combatida através da campanha “Choosing Wisely” (escolhendo com sabedoria), iniciada nos Estados Unidos, em 2012 e que vem tomando corpo, recentemente, em outros países.
Aqui no Brasil, o movimento surgiu em 2015 como um projeto colaborativo, tocado por sociedades de especialidades brasileiras, estando à frente a Sociedade Brasileira de Cardiologia e a Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade. O Hospital São Rafael, em Salvador, foi um dos pioneiros a criar sua listagem própria de orientações para cada especialidade médica.
Em parceria com o Núcleo de Qualidade, a Coordenação de Pesquisa da unidade de saúde, orientou que cada grupo assistencial levantasse duas recomendações do que ‘não fazer’, em cada especialidade. De acordo com o médico cardiologista e coordenador científico do HSR, Luis Cláudio Correia, a ideia segue a linha do paradigma ‘menos é mais’. “Em certas situações, quanto menos procedimentos (ou seja, melhor seleção), melhor o desfecho do paciente”.
“Na prática, uma pessoa não pode passar nem perto do consultório cardiológico, que sairá com um pedido de exame não invasivo para pesquisa de doença coronária. O teste ergométrico é o mais comum, porém também podem ser solicitados cintilografia miocárdica e a tomografia de coronária – surgindo como um método apurado e potencialmente útil, porém com risco de ser usado para promover o overdiagnosis. O ideal é enxergar se há mesmo necessidade de prescrever tais procedimentos, a partir do contexto clínico, explica o especialista”, explica o especialista.
Choosing Wisely no São Rafael
A listagem de recomendações, que foi validada e entregue para os médicos de todas as especialidades do São Rafael, estimula a conduta consciente dos profissionais na hora de prescrever exames e tratamentos. Dentre os exemplos, estão: evitar ressonância magnética em indivíduos com dor lombar há menos de seis semanas (esperar passar); evitar eletrocardiograma anual, teste de esforço ou raio x de tórax na ausência de contexto clínico (overdiagnosis); no que se refere à farmácia, a conduta é de não prescrever laxantes em pacientes constipados sem antes avaliar os medicamentos, que podem ter causado e que poderiam ser retirados ou substituídos. Já com relação aos cuidados paliativos, o conselho é evitar sedação profunda para controle de sintomas que não sejam refratários aos tratamentos habituais, de forma a manter o estado do paciente estável.
Fonte: Hospital São Rafael