O Implante Percutâneo Valvar Aórtico (ITVA) é seguro e eficaz em nonagenários, de acordo com pesquisa apresentada no Congresso da Sociedade Europeia de Cardiologia (ESC). O estudo observacional descobriu que nonagenários submetidos ao ITVA apresentaram piores resultados no curto prazo, mas com resultados semelhantes aos pacientes com menos de 90 anos após um ano. O implante dessa válvula é feito via cateterismo cardíaco, através da artéria femoral e se trata de um procedimento menos invasivo que uma cirurgia aberta.
“O número de nonagenários (com 90 anos ou mais) está crescendo e nos EUA a projeção é que este número quadruplique até 2050, chegando a 8,7 milhões”, afirma um dos autores, Dr. Adriano Caixeta, cardiologista intervencionista do Hospital Israelita Albert Einstein, São Paulo, Brasil. “Dessa forma, os cardiologistas estão sendo confrontados com um número crescente de pacientes nonagenários com estenose aórtica severa, que é uma doença que afeta 150 mil brasileiros acima dos 75 anos”.
As causas da estenose podem ser congênitas ou, o mais comum, que seja adquirida com o tempo e o envelhecimento do tecido. A válvula começa a criar obstrução à saída do sangue e com o avanço da doença, o indivíduo apresenta sintomas como pressão no peito e desmaios e pode leva-lo à morte.
“O ITVA foi estabelecido como um tratamento padrão para os pacientes mais idosos com estenose aórtica”, continuou Caixeta. “Entretanto, existe um debate sobre a utilidade clínica do ITVA em alguns subgrupos de pacientes de risco muito alto, incluindo nonagenários, uma vez que representam, de modo geral, uma pequena fração dos pacientes inscritos em ensaios clínicos”. Existem poucos dados sobre a segurança e eficácia do ITVA em pacientes acima dos 90 anos e falta acompanhamento de longo prazo (acima de um ano).
O presente estudo avaliou os resultados clínicos iniciais (30 dias) e a longo prazo (até 2 anos) em pacientes nonagenários submetidos a ITVA. Entre janeiro de 2008 e fevereiro de 2015, pacientes com estenose aórtica sintomática submetidos a ITVA foram inscritos em um registro multicêntrico brasileiro.
Em um total de 819 pacientes, 735 tinham menos de 90 anos e 84 (10,2%) eram nonagenários. Os pacientes nonagenários eram, em média, 12 anos mais velhos do que os pacientes com menos de 90 anos (92,4 anos versus 80,1 anos; p<0,001).
Em comparação com pacientes mais jovens, os pacientes nonagenários estavam mais doentes (pontuação de risco de 13,19% versus 9,87%;p< 0,001 de acordo com a Sociedade Americana de Cirurgia Torácica [STS]), e apresentavam menor índice de massa corporal (24,61 ± 3,87 vs 26,49 ± 4,78 kg/m2; p=0,001).
Em 30 dias após o ITVA, a taxa de mortalidade por todas as causas foi maior no grupo nonagenário (15,6% versus 8,4%; p=0,04). Em um ano, houve taxas similares de mortalidade entre nonagenários e pacientes mais jovens (20,9% vs 21,8%) (figura 1). Não houve diferenças nas taxas de derrame, infarto do miocárdio ou sangramento nos períodos de 30 dias e um ano.
Após dois anos de acompanhamento, houve uma taxa de mortalidade maior em nonagenários, o que provavelmente reflete a expectativa de vida mais baixa, inerente nesses pacientes. Dr. Caixeta afirmou: “Neste estudo observacional do mundo real, os pacientes nonagenários submetidos ao ITVA apresentaram piores resultados no curto prazo, mas semelhantes aos resultados clínicos em um ano em paciente com menos de 90 anos. As descobertas sugerem que o ITVA é seguro e eficaz em pacientes nonagenários com estenose aórtica e que não se trata de um tratamento de indicação fútil ou desnecessária”.
Figura 1: Curvas de Kaplan-Meier de mortalidade por todas as causas em nonagenários (verde) versus pacientes com menos de 90 anos (azul) submetidos a ITVA.
Legenda da Figura:
Possibility of death = possibilidade de óbito