Um artigo publicado pelo periódico norte-americano “Lung Cancer”, em abril, relata a evolução obtida com a utilização de biópsias líquidas sequenciais, durante o tratamento de uma paciente com câncer de pulmão. O estudo é o primeiro trabalho nesta área apresentado por pesquisadores do Instituto Sírio-Libanês de Ensino e Pesquisa (IEP/HSL), que atuaram em parceria com os profissionais do Centro de Oncologia do Hospital Sírio-Libanês.
A paciente, que recebeu o tratamento durante um ano, possuía um câncer de pulmão de células não pequenas, que apresentava uma mutação no gene EGFR. Mutações em EGFR são frequentemente encontradas neste tipo de tumor e indicativas para utilização de terapia alvo.
“Foi um estudo longo, que identificou de forma precoce a progressão da doença, norteou a conduta terapêutica e permitiu a caracterização de um novo mecanismo de resistência à droga utilizada no tratamento. Embora baseado na descrição de um único caso, toda a abordagem desenvolvida e utilizada neste estudo será aproveitada no cuidado a outros pacientes com a mesma mutação”, explica a Dra. Anamaria Camargo, coordenadora do Centro de Oncologia Molecular do IEP.
O estudo
A biópsia líquida é constituída por testes que detectam o DNA circulante de um tumor no sangue do paciente, o que torna a técnica pouco invasiva, quando comparada com as tradicionais biópsias de tecido. O procedimento integra um conjunto de práticas da medicina personalizada ou de precisão, área onde os dados genéticos de cada tumor têm permitido a escolha de tratamentos mais eficazes e com potencial de efeitos colaterais reduzidos.
A paciente foi analisada em diferentes momentos do seu tratamento, no período de fevereiro a dezembro de 2016. Por meio das análises do sangue, foi possível identificar com antecedência a resistência que o tumor estava adquirindo em relação ao medicamento utilizado, permitindo redirecionar a terapia, com o uso de outra medicação.
Além de ter apoiado a mudança na conduta terapêutica, a biópsia líquida possibilitou monitorar a resposta da paciente à nova droga e identificar um novo mecanismo de resistência.
“Esses resultados demonstram como a união entre pesquisa básica e pesquisa aplicada tem reflexo direto na melhoria da assistência ao paciente. Atualmente, o IEP está conduzindo um estudo, utilizando o mesmo tipo de monitoração, que envolve cerca de 40 indivíduos com câncer de pulmão, cólon ou mama”, acrescenta a Dra. Anamaria.
Eficácia comprovada
Um trabalho do pesquisador Frank R. Lichtenberg, da divisão de finanças e ciências econômicas da Columbia Business School, nos Estados Unidos, publicado em março deste ano, comprovou o impacto de atividades de pesquisa desenvolvidas em hospitais na redução da mortalidade e do período de internação de pacientes com câncer.
O desenvolvimento de pesquisas, que resultaram na publicação de artigos científicos, reduziu a mortalidade, antes dos 75 anos, a uma taxa anual de 0,9% entre os pacientes tratados entre 1999 e 2013. Além disso, aumentou em 566 mil o total de potenciais anos de vida destas pessoas.
O trabalho analisou dados disponíveis no sistema PubMed de cerca de 30 instituições norte-americanas. O artigo pode ser acessado no site do National Bureau of Economic Research.