Uma pesquisa inovadora do Hospital Sírio-Libanês aponta que a estimulação do nervo vago – através de uma técnica de eletroacupuntura – pode prevenir a dor neuropática, uma complicação que afeta cerca de 60% dos pacientes oncológicos. Esse tipo de dor, causado por danos nos nervos, provoca queimação, formigamento e sensibilidade intensa ao toque.[i] Além das pessoas em tratamento de quimioterapia, onde certos medicamentos afetam diretamente os nervos, a dor neuropática é comum em casos de compressão prolongada, herpes, amputações, diabetes e esclerose múltipla[ii], representando um grande desafio para a medicina.
Para ajudar a prevenir esse tipo de dor, a pesquisadora Rosana Pagano, do Sírio-Libanês, está investigando o uso da eletroacupuntura para estimular o nervo vago, localizado na concha auricular (região do ouvido). Esse avanço abre uma nova possibilidade para tornar o tratamento de quimioterapia menos doloroso e mais suportável, oferecendo um alívio não invasivo antes mesmo que a dor se instale. Além da prevenção da dor, o método também mostrou reduzir outros sintomas desconfortáveis, como náuseas, tornando o processo de quimioterapia menos desgastante e favorecendo a qualidade de vida dos pacientes.
“O nervo vago é o nervo mais extenso do corpo humano. Ele se estende desde o sistema nervoso central até o intestino, modulando a função de diversos órgãos. Dentre as suas principais funções está a sua ação anti-inflamatória”, explica Pagano. “Com o estudo, constatamos que a estimulação percutânea auricular – uma forma não invasiva de estimulação do nervo vago – pode ser efetiva quando aplicada minutos antes do paciente iniciar o ciclo de tratamento com o quimioterápico. Essa abordagem terapêutica aplicada nesse contexto, ainda estudada somente em animais, se mostrou muito promissora na prevenção da neuroinflamação e neurodegeneração, que estão diretamente associadas ao desenvolvimento e manutenção da dor neuropática.”
A proposta do estudo é que, ao chegar ao hospital para iniciar a quimioterapia, o paciente passe primeiro pela estimulação percutânea do nervo vago. Segundo a pesquisadora, os resultados preliminares são animadores. “Além de prevenir a dor neuropática, observamos em dois relatos de caso em pacientes, uma redução significativa de outros sintomas, como náuseas e vômitos. O fato de a estimulação ser feita pouco antes da administração da quimioterapia também facilita sua incorporação no fluxo de tratamento dos pacientes oncológicos”, comenta Pagano.
Ela reforça que os tratamentos convencionais para dor neuropática, como antidepressivos e anticonvulsivantes, nem sempre são eficazes, o que torna fundamental a busca por abordagens preventivas. “Com essa técnica, temos a chance de agir antes que a dor se instale, melhorando a experiência do paciente e a adesão ao tratamento. Estamos otimistas de que essa abordagem possa ser amplamente utilizada no futuro.”
A pesquisa integra os esforços contínuos do Sírio-Libanês em transformar conhecimento em cuidado. Ter pesquisas conduzidas internamente ajuda o hospital a trazer medicina de ponta com um olhar integral para o paciente.
[i] TREEDE, R.-D. et al. Neuropathic pain: Redefinition and a grading system for clinical and research purposes. Neurology, v. 70, n. 18, p. 1630 1635, 29 abr. 2008.
[ii] ATTAL, N. et al. Thermal hyperalgesia as a marker of oxaliplatin neurotoxicity: A prospective quantified sensory assessment study. Pain, v. 144, n. 3, p. 245 252, ago. 2009.
Fonte: Hospital Sírio-Libanês