Maria Lúcia Neves Biancalana*
Há pouco mais de uma semana, o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids) divulgou um novo relatório, mostrando que o número de pessoas com acesso ao tratamento dobrou nos últimos cinco anos, passando de 18 milhões (junho/2016), entre elas 910 mil crianças.
Com acesso mais amplo ao tratamento e a maior eficácia dos antirretrovirais, a expectativa de vida dos portadores do vírus também aumentou. Até o ano passado, havia quase seis milhões de pessoas acima de 50 anos vivendo com o HIV.
Além disso, o tratamento precoce dos pacientes soropositivos reduziu drasticamente a ocorrência das infecções oportunistas. Hoje, as complicações que as pessoas que convivem com o vírus estão sujeitas estão ligadas ao processo de envelhecimento, como o risco cardiovascular e os distúrbios metabólicos decorrentes do sedentarismo e de hábitos de vida pouco saudáveis.
O Brasil foi um dos pioneiros no fornecimento gratuito do tratamento aos portadores do vírus HIV e, atualmente, entre os países considerados de baixa e média renda pela classificação da Unaids, é o que registra uma das maiores taxas de coberturas de tratamento: 64% dos brasileiros que vivem com o vírus recebem o tratamento antirretroviral (TARV) via Sistema Único de Saúde (SUS).
Apesar das boas notícias, continuamos preocupados com o avanço da infecção em nosso País, especialmente entre a população mais jovem, na faixa dos 13 aos 19 anos, entre a qual parece haver certo descaso em relação à doença.
No dia a dia do consultório percebe-se que ainda há pessoas que praticam sexo sem o uso do preservativo, acreditando que não correm risco. Esse tipo de comportamento contribui para que o número de novos casos de infecção pelo vírus HIV no Brasil continue a crescer. Segundo estimativas recentes do Unaids, o País responde por 40% das novas infecções por HIV na América Latina.
Entre a população feminina a situação é ainda mais grave. As meninas estão iniciando a vida sexual mais cedo e sem o uso de preservativo, o que as expõe ao risco de infecção pelo HIV e de outras doenças sexualmente transmissíveis. Além disso, as taxas de testagem para o vírus e de adesão ao tratamento nessa faixa etária ainda são baixas.
Portanto, temos sim que comemorar os avanços no combate à Aids. Porém, não podemos mais fechar os olhos para tudo o que ainda precisa ser feito em termos de campanhas informativas e de conscientização sobre o risco que o HIV ainda oferece, principalmente para os adolescentes e adultos jovens.
*Maria Lúcia Neves Biancalana é médica infectologista, gerente médica da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar da Beneficência Portuguesa de São Paulo e membro do corpo clínico do Hospital São José, unidade hospitalar da Beneficência Portuguesa de São Paulo.
Autor: Maria Lúcia Neves Biancalana
Fonte: Beneficência Portuguesa de São Paulo