Artigo: Como e quando a economia irá superar a crise pandêmica?

Para ajudar nossos associados e demais profissionais da saúde, a Anahp reúne artigos de diversos representantes do setor, com a finalidade de mostrar diferentes perspectivas do impacto da covid-19.

 

Por André Medici, economista social e da saúde*

Passados mais de seis meses do início da pandemia da Covid-19, países ao redor do mundo se encontram em diferentes momentos do crescimento das taxas de infecção, mas na perspectiva global fica claro, pelo aumento diário do número de novos casos, que a pandemia está ainda longe de sair de nossas vidas. Entre 1º de março e 1º de julho de 2020, o número de novos casos diários de Covid-19 passou de 1,7 mil para 187,6 mil, mas é importante destacar que esse crescimento se acelerou nos últimos meses. Entre 1º de junho e 1º de julho de 2020 o número de novos casos por dia cresceu 49%, comparado com 44% entre 1º de maio e 1º de junho do mesmo ano, o que evidencia que a pandemia ainda se encontra em fase de aceleração ao nível mundial.

Ao longo dos últimos seis meses o epicentro da pandemia mudou diversas vezes, passando da China (Wuhan) para a Europa (Itália e Espanha), depois para os Estados Unidos e chegando à América Latina. De fato, considerando o número diário de novos casos em 1º de julho de 2020, 30% se concentravam na América Latina e Caribe (ALC), seguindo-se 29% nos Estados Unidos e Canadá, 14% na Ásia e Oceania, 11% na Europa, 10% no Oriente Médio e 6% na África.

A  ALC hoje detém uma situação particularmente delicada. Considerando os 10 países com mais casos de Covid-19 por milhão de habitantes em 30 de junho de 2020, 4 deles se encontravam na Região: Chile (1º lugar), Perú (3º lugar), Panamá (5º lugar) e Brasil (9º lugar); este último disputando com os Estados Unidos a liderança no número de casos diários nas últimas semanas.

O crescimento da pandemia tem levado à deterioração das projeções de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) global para 2020. O World Economic Outlook (WEO) do Fundo Monetário Internacional (FMI) projetava em janeiro deste ano um crescimento do PIB mundial de 3,3% em 2020. Com o advento da pandemia, as projeções de crescimento do PIB global passaram a ser negativas (-3,0%), de acordo com o WEO de abril, e o rápido crescimento dos casos e prolongamento dos picos pandêmicos em vários países levaram a um novo reajuste negativo do crescimento para -4,9% de acordo com o WEO de junho de 2020.

A revisão para baixo das projeções de crescimento do PIB ocorreu em quase todos os países, afetando não somente as economias avançadas, mas também os países em desenvolvimento. Os Estados Unidos, onde o FMI esperava um decréscimo do PIB de -5,9% em abril, passou para -8,0% em junho, o mesmo ocorrendo com a Zona do Euro, onde as estimativas de crescimento deterioraram de -7,5% para -10,2%. O Brasil, com seu crescimento descontrolado do número de casos de Covid-19, teve as projeções de crescimento do PIB revisadas de -5,3% para -9,1% em 2020.

A grande interrogação que fica é qual será a próxima estimativa, e isto depende, em primeira instância, de como a pandemia está sendo gerenciada. Ainda que muitos países desenvolvidos tenham decidido retomar suas atividades econômicas após menores índices de infestação pandêmica, ainda há muitos equívocos na gestão da pandemia que poderão afetar negativamente a economia.

No caso específico do Brasil, as expectativas dos atores econômicos, reveladas pelo Boletim Focus do Banco Central na primeira semana de julho, sinalizam um decréscimo do PIB de -6,5% em 2020, dado que alguns indicadores econômicos, como o crescimento da indústria, têm dado alguns sinais de recuperação entre maio e junho. Mas a realidade ainda carrega muitas incertezas sobre como e quando poderá ser superada a crise trazida pela pandemia no Brasil.

O que a experiência internacional tem demonstrado até o momento é que não há nenhum conflito entre o controle pandêmico e o desempenho da economia, mas ao contrário, que os países que conseguiram controlar a pandemia, seja através de processos de distanciamento social bem administrados, com forte adesão da população e vigilância das autoridades, ou através de estratégias de testagem em massa e rastreamento e controle da circulação dos indivíduos com casos positivos, foram aqueles que minimizaram as perdas de vidas, os custos dos sistemas de saúde e trouxeram de volta as expectativas positivas de recuperação econômica para 2020 ou 2021.

Cabe, portanto, aos governos e à sociedade imbuir-se dos princípios defendidos por William Deming em seus escritos sobre qualidade total, de constância e consistência de propósitos na gestão da pandemia, através de processos de retorno às atividades econômicas que contem com a segurança no controle e a evidência de que a transmissão pandêmica foi reduzida aos níveis adequados para o retorno ao crescimento.

 

*André C. Medici é economista social e da saúde, consultor internacional, trabalhou entre 1996 e 2020 no Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e no Banco Mundial. É editor do Blog Monitor da Saúde.

 

Os artigos publicados não traduzem a opinião da Anahp. A iniciativa tem o objetivo de trazer a perspectiva de diversos elos do setor de saúde, em um momento em que informação é a base para o enfrentamento à nova pandemia.

 

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