Artigo – Desafios da pandemia no abastecimento de insumos farmacêuticos

Para ajudar nossos associados e demais profissionais da saúde, a Anahp reúne artigos de diversos representantes do setor, com a finalidade de mostrar diferentes perspectivas do impacto da Covid-19.

Arauna Itacy, coordenadora de Suprimentos e Logística da S.O.S. Vida 

A pandemia de Covid-19 trouxe um imenso cenário de incertezas, forçando governos e empresas em todo o mundo a iniciarem medidas de gestão de riscos. Uma das consequências visíveis foi a quebra da cadeia produtiva por conta do fornecimento irregular de insumos, trazendo transtornos para toda a população.

As instituições de saúde, envolvidas na linha de frente desse combate, estão sendo extremamente impactadas pelo desabastecimento de insumos farmacêuticos, material médico e EPIs. Além disso, a escassez no mercado aliada aos impactos logísticos acarretaram um aumento de custo na aquisição, forçando os gestores a avaliarem seus planos e números constantemente.

Impossibilidade de importação da matéria prima, redução da carga aérea, excesso de cargas paradas em portos, suspensão de voos internacionais, apreensão de cargas e as práticas duras de negociação – impondo condição de pagamento à vista e assombrosos e constantes reajustes de preço – e a nossa realidade atual. O conceito de “Mundo Vuca” faz cada vez mais sentido em meio a essa “operação de guerra” que tomou nosso cotidiano. A expressão faz referência a cenários desafiadores que trazem as características de serem Voláteis, Incertos, Complexos e Ambíguos (em inglês Volatility, Uncertertainty, Complexity, Ambiguity).

Essa situação está presente em todo o sistema de saúde, dos hospitais a empresas de home care, impactando no atendimento de pacientes atuais e futuros, podendo contribuir para o aumento no número de mortes. Uma fatalidade imensurável, já que vidas não tem preço.

Diante desta realidade, se faz necessário implementarmos, em uma ação conjunta dos processos de logística e assistência, uma série de “respostas rápidas” que de fato agreguem valor: evitar desperdício, adequar políticas e desenvolver plano de criticidade para todas as categorias de insumos.

Na elaboração do plano de criticidade devem ser previstos gatilhos e ações compartilhadas que sensibilizem a equipe da assistência ao uso racional de insumos farmacêuticos para pacientes assistidos, com iniciativas claras e ordenadas através de ferramentas que direcionem maior objetividade para operacionalização da equipe.

Dentre essas iniciativas podemos destacar uma estratégia bastante conhecida na Farmácia Clínica e que tem sido discutida e estudada em todo o mundo: ato de “desprescrever” itens na prescrição atual. A desprescrição otimiza resultados através do processo de identificação e descontinuação de medicamentos desnecessários, inefetivos, inseguros ou potencialmente inadequados e envolve colaboração entre profissionais e pacientes.

O processo de desprescrição é mais comum entre pacientes idosos, embora possa ser adotado para todas as faixas etárias e envolver qualquer medicamento, sempre que necessário. A desprescrição pode depender de diferentes fatores, como a preferência do médico, a padronização da instituição ou, no nosso contexto atual, na disponibilidade de medicamentos no mercado.

Entretanto, é preciso destacar que todo o processo precisa ser feito a partir de um embasamento científico, com adoção de métodos, relatórios e instrumentos padronizados que direcionem olhar e a análise da equipe assistencial de forma direta, resultando no uso mais racional dos medicamentos.

O momento é oportuno para avaliar e aplicar novas condutas de cuidados, onde o profissional da assistência pode envolver pacientes e familiares, alertando sobre a importância do uso racional de insumos e da adoção de outros medicamentos disponíveis no mercado com mesma eficácia terapêutica. A condução, sendo feita com transparência e cuidado, apresentando os riscos atuais e sensibilizando do que de fato agrega valor para o tratamento dos pacientes, deve contribuir para alcançarmos uma situação de menos instabilidade no enfrentamento da pandemia.


Os artigos publicados não traduzem a opinião da Anahp. A iniciativa tem o objetivo de trazer a perspectiva de diversos elos do setor de saúde, em um momento em que informação é a base para o enfrentamento à nova pandemia.

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