Interoperabilidade é um dos grandes desafios do sistema na implantação do modelo de saúde baseada em valor

Criar a padronização de dados no sistema de saúde é premissa básica para haver condições de desenvolvimento do setor no Brasil

Implantar o modelo de saúde baseada em valor já é um grande desafio para hospitais e operadoras. Mas há um desafio ainda maior antes disso que é criar a interoperabilidade do sistema, ou seja, padronizar dados e informações que sejam lidos, compreendidos e tenham possibilidade de acesso a partir de qualquer unidade de saúde, seja pública ou privada.

Durante o Conahp (Congresso Nacional de Hospitais Privados) o tema foi debatido por especialistas e autoridades envolvidas neste desafio. O evento reuniu em São Paulo mais de 100 palestrantes que debateram assuntos diversos ligados ao mercado de saúde e foi realizado pela Anahp (Associação Nacional de Hospitais Privados).

Um dos convidados para falar sobre o tema foi o norte-americano George Mathew, diretor médico da DXC Technology, empresa especializada na gestão de dados para o setor, que criou uma plataforma capaz de gerenciar esses dados e padronizar as informações.

“Neste processo existem duas etapas importantes. A primeira é criar um padrão para esses dados, levando uma série de aspectos em consideração como segurança, operabilidade e acesso. Logo depois, o passo é criar engajamento entre médico, administradoras e paciente, para que todos saibam o que fazer com esses dados”, diz.

Essa interoperabilidade se faz necessária quando pensamos na saúde baseada em valor, afinal, levando em consideração que o paciente é o centro de tudo e a personalização dele como indivíduo, o acesso aos dados dessa pessoa é fundamental para que o atendimento seja completo.

“O obstáculo para isso é que temos que forçar um nível de transparência que os hospitais não estão acostumados. A forma paternalista com a qual o paciente é tratado não tem mais espaço no mundo, esse paciente tem acesso a informações que antes não tinha, sendo assim, ele tem escolhas. A ideia é criar uma relação de parceria, não de dependência”, explica Mathew.

No Brasil

“O Datasus tem duas grandes missões: compartilhar dados e proporcionar um prontuário eletrônico. Desde 2011 se fala em interoperabilidade do sistema, vários projetos foram criados, mas nenhum foi levado adiante”, diz Jacson Barros, diretor do Datasus.

A iniciativa do órgão começa a tomar forma no Estado de Alagoas, que tem 77% dos seus hospitais sem prontuários eletrônico e 80% de suas unidades básicas de saúde não são informatizadas. A lógica da escolha feita pelo Ministério da Saúde foi: se conseguirmos implantar em um Estado que tem as piores condições, podemos replicar a experiência para o Brasil todo. “Iremos começar com o que temos padronizado até agora, que é pouca coisa, realmente”, assume Barros.

De fato, por enquanto o Datasus tem o básico de informações sobre: vacinação, distribuição de medicamentos, atendimento assistenciais, sumários de alta hospitalar e exames realizados. Segundo o diretor, o processo neste momento está na definição de padrões para que todo estabelecimento de saúde possa trocar informações entre si.

“Temos que criar um padrão nacional de gestão de fila e usar a inteligência artificial para priorizá-la. Hoje, quem regula essa fila não tem a menor ideia do histórico do paciente. Se pensarmos somente em São Paulo, são 45 milhões de vidas, quer dizer, não é um trabalho simples e rápido”, afirma.

Para Lilian Quintal Hoffmann, diretora-executiva de Tecnologia e Operações da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, é necessário pensar que antes de interoperar com o governo e com outras instituições é preciso fazer com que os departamentos de dentro dos próprios hospitais se comuniquem. “Antes de pensar no vizinho, temos que arrumar a própria casa”, conclui.

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