Projeto de expansão é avaliado em R$ 140 milhões. Próxima unidade será inaugurada em março
Três prédios. Duzentos e cinquenta e sete leitos. Dezessete mil metros quadrados. Ainda é pouco para quem planeja fechar um quarteirão inteiro e consolidar-se como o maior complexo particular de saúde do estado do Rio de Janeiro. Até 2018, após despender R$ 140 milhões para erguer três novas unidades — uma delas a ser inaugurada em março do ano que vem —, o Complexo Hospitalar de Niterói (CHN) chegará a 47.793 metros quadrados. A obra em andamento na Rua Euzébio de Queirós (unidade IV) já prevê a modernização do setor de transplantes, impulsionado agora por um novo credenciamento, concedido pelo Ministério da Saúde (MS) no final de junho, que permite a realização de transplantes de medula óssea alogênico não aparentado. Trocando em miúdos, trata-se de um método que usa medula ou células-tronco de doadores voluntários sem vínculo sanguíneo com o paciente, modalidade de grande demanda nos dias atuais, segundo Marcia Garnica, infectologista do CHN Transplante.
— Essa necessidade veio até pela diminuição do tamanho das famílias. Hoje, para uma pessoa que adquire uma doença como a leucemia, por exemplo, e tem um número muito restrito de irmãos, a possibilidade de ter um doador aparentado é cada vez menor. Daí a busca de doadores alternativos — acrescenta.
Os voluntários são inscritos no Registro Brasileiro de Doadores de Medula Óssea (Redome) ou em bancos de sangue públicos de cordão umbilical e placentário (BSCUP). Quando mesmo a fila do não aparentado não é suficiente para encontrar um doador 100% compatível, ainda é possível recorrer à família.
— Desde 2015 tentamos dar mais esse passo e buscamos, em paralelo ao método do não aparentado, também o haploidêntico, que é quando a mãe ou o pai são os doadores. Eles têm 50% de compatibilidade ou um pouco mais — explica a também especialista Márcia Rejane Valentim, coordenadora do programa.
O CHN é o primeiro hospital da rede particular a receber o credenciamento para a realização da nova modalidade de transplante oferecida.
— O transplante alogênico não aparentado, pela falta de parentesco entre o doador e o receptor, potencializa a chance de complicações, mais do que no aparentado ou no autólogo. Para realizar este procedimento, o hospital precisa ter não apenas uma área física preparada para isso, mas, principalmente, uma equipe habilitada e já experiente para identificar rapidamente qualquer reação do paciente e minimizar efeitos negativos, protegendo-o — explica Ilza Fellows, diretora-geral do CHN.
Familiares dos transplantados também são acolhidos, numa ala de repouso chamada Espaço Vida. A cada “pega” realizada com sucesso, quando o organismo do receptor não rejeita o órgão, a equipe comemora.
— O bom astral do paciente também depende do de seus familiares. Então, estendemos esse acompanhamento com palestras e terapias. A alta hospitalar é comemorada com bolo, refrigerante, doces, tudo o que os pacientes não podiam comer no período de internação. Eles consideram essa fase como um renascimento — conta a diretora.
TOTAL DE 450 LEITOS
Até então, o Complexo, pioneiro na realização de transplantes de órgãos na rede privada de saúde, oferecia somente transplantes de medula óssea autólogos, desde 2007, e alogênicos aparentados, desde 2013; além de renais de um doador vivo ou falecido ou renal em bloco, desde 1998; e de tecidos musculoesqueléticos — ossos, tendões, meniscos e cartilagens aí incluídos —, a partir do banco do Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Into). Pelas regras da Agência Nacional de Saúde (ANS), três tipos de transplantes são cobertos atualmente por planos de saúde: renal, de medula e de córnea.
— O musculoesquelético, por tratar-se de uma cirurgia dentro do procedimento em que a ANS cobre a prótese, cobre o procedimento também. E toda a doação de órgão dentro das regras dela não tem custo. Mas, hoje, quando há um doador vivo que não é parente direto e quer se voluntariar, é preciso informar ao Ministério Público para não estimular o tráfico de órgãos — explica Ilza.
A expectativa é que os atendimentos na emergência — adulta, pediátrica e obstétrica —, que ocupará uma área de dois mil metros quadrados, passem de 12 mil para 20 mil por mês. Já no setor de transplantes, os atendimentos devem mais que duplicar, acredita a gestora do Complexo, que conta ainda com um heliponto para resgates ágeis. Por lá, os 21 leitos atuais chegarão a 30, sendo 20 fechados em pressão negativa e equipados com filtro hepa (para eliminar as infecções por bactérias). Todos são monitorados por câmeras. A área de terapia intensiva cardiológica também será ampliada, e o centro cirúrgico receberá sete novas salas. Com isso, o total de leitos de internação aumentará para 450. Todos os prédios serão fisicamente conectados.
— Passaremos a ter condições de fazer três vezes o volume dos atendimentos que fazemos do aparentado. Existe ainda a possibilidade de expandir mais leitos em outro andar, se houver necessidade — acrescenta Ilza.
Fonte: O Globo On-Line