Uma pesquisa desenvolvida pelo cardiologista do Hospital Moinhos de Vento, Luis Beck da Silva Neto, e apresentada recentemente no Congresso da Sociedade Europeia de Cardiologia (ESC2014), em Barcelona, Espanha, sugere importantes mudanças no tratamento de pacientes com Insuficiência Cardíaca (IC) descompensada. O estudo se aprofunda numa prática adotada rotineiramente nos hospitais: a restrição de sal e líquidos. O grande diferencial é que a pesquisa contesta a eficácia de tal conduta no tratamento. Inclusive, de acordo com o cardiologista, essa restrição pode em determinados momentos até agravar o quadro clínico do doente. “Sempre se partiu do conceito de que a restrição poderia auxiliar o paciente, mas na verdade pouco havia de comprovado sobre o tema”, explica.
O estudo, realizado no Hospital de Clínicas de Porto Alegre, como tema de doutorado da enfermeira Graziella Aliti, sob orientação do cardiologista Luis Beck da Silva Neto e da enfermeira Eneida Rabelo da Silva contou com a participação dos médicos do corpo clínico do Hospital Moinhos de Vento Nadine Clausell, Luís E. Rohde e Andreia Biolo.
De acordo com a pesquisa, os pacientes que tiveram restrição agressiva de sal e líquidos no período que estiveram internados não apresentaram nenhuma melhora na comparação com aqueles com dieta livre (normal). Ao contrário, foram registrados alguns sintomas maléficos, como a sede excessiva.
Ao ser internado, um paciente com insuficiência cardíaca aguda permanece em média uma semana no hospital. Segundo o estudo apresentado em Barcelona, os pacientes com restrição de água e sal e aqueles com dieta livre tiveram respostas similares em relação à perda de peso, à manifestação de sinais e sintomas de congestão (edema, falta de ar), dose média de diuréticos e função renal. Nesta lógica, ele acredita que as restrições de sal e líquidos são desnecessárias.
O debate sobre o assunto é polêmico, reconhece o cardiologista. Inclusive, há interesse de universidades do Canadá e dos Estados Unidos em desenvolver pesquisas com este mesmo enfoque. O estudo completo foi publicado em maio de 2013, no JAMA Internal Medicine, índice de impacto 13,25, importante publicação de pesquisas médicas.
Conheça o estudo acessando http://archinte.jamanetwork.com/article.aspx?articleid=1689981 ou doi:10.1001/jamainternmed.2013.552.
Fonte: Hospital Moinhos de Vento – 03.10.2014