Por que precisamos falar (mais) sobre a Doença Celíaca?

No Dia Mundial da Conscientização sobre a Doença Celíaca, explicamos a doença, o diagnóstico e o tratamento dessa condição ainda pouco compreendida

Em 16 de maio é celebrado o Dia Mundial da Conscientização sobre a Doença Celíaca, uma data que vai muito além das hashtags nas redes sociais ou das reportagens que aparecerão na TV. É um convite à informação e, principalmente, à empatia com quem vive sob uma rotina alimentar rígida e inegociável: cortar todo e qualquer traço de glúten da vida, porque, do contrário, as consequências podem ser graves.

Mas afinal, o que é a doença celíaca? Como saber se você tem? E por que, mesmo sem sintomas escancarados, ela pode trazer sequelas ao corpo? A gente responde a seguir.

O que é Doença Celíaca?

A doença celíaca não é uma modinha, nem uma simples intolerância alimentar. Trata-se de uma condição autoimune crônica, na qual o organismo reage de forma agressiva à ingestão de glúten — uma proteína presente no trigo, na cevada e no centeio.

Em pessoas geneticamente predispostas, mesmo uma migalha de pão pode desencadear inflamação no intestino delgado. No longo prazo, esse contato com o glúten prejudica a absorção de nutrientes e pode levar a sérias consequências, como desnutrição, anemia e osteoporose. Alguns estudos até associam o transtorno a risco aumentado de câncer intestinal.

Quais são os principais sintomas da doença celíaca?

Os sintomas mais conhecidos são:
• Dor abdominal
• Inchaço
• Diarreia crônica
• Gases
• Perda de peso

Mas os sinais também podem ser mais silenciosos e aparecer fora do sistema digestivo: fadiga, alterações de humor, dores nas articulações e até mesmo infertilidade e problemas neurológicos podem estar ligados à doença.

Como é feito o diagnóstico da doença celíaca?

Segundo Andrea Bottoni, nutrólogo do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, “a doença celíaca pode passar despercebida por anos, dificultando o diagnóstico precoce.”

Quando há suspeita, o diagnóstico começa com exames de sangue específicos para detectar anticorpos antitransglutaminase e antiendomísio, além de testes genéticos em alguns casos.

O médico também pode solicitar uma endoscopia com biópsia do intestino delgado para confirmar se há danos típicos da doença.

Para complementar os resultados mostrados nos exames, o profissional pode sugerir alterações na dieta para observação. “É possível fazer testes, por exemplo, com uma dieta restritiva, sem glúten, e avaliar as mudanças nos sintomas do paciente”, complementa Bottoni.

A recomendação de cortar o glúten só deve ser seguida sob orientação médica — afinal, o glúten não é esse grande vilão para a população em geral. Isso só é realidade para pacientes com doença celíaca, intolerância ou sensibilidade ao glúten.

Qual é a diferença entre doença celíaca, intolerância e sensibilidade ao glúten?

Essa é uma dúvida comum — e com razão. As três condições envolvem reações ao mesmo elemento (o glúten), mas são bem diferentes entre si. Entenda:

  • Doença celíaca: é autoimune, não tem cura e pode causar danos reais ao intestino. O tratamento exige exclusão total e definitiva do glúten.
  • Sensibilidade ao glúten não celíaca: causa sintomas semelhantes, como inchaço e desconforto, mas sem provocar a inflamação intestinal típica.
  • Intolerância ao glúten (rara): pode ocorrer por outros mecanismos, como déficits enzimáticos, e não está ligada à imunidade.

O que é permitido (e proibido) na alimentação de quem tem doença celíaca?

Nada de pão francês, cervejinha ou bolo da padaria. Para o celíaco, o glúten precisa ser eliminado por completo, sem exceções — e isso inclui evitar contaminação cruzada, como frituras feitas no mesmo óleo de alimentos com glúten.

De acordo com o médico, “quando essa proteína é excluída, os sintomas desaparecem. É claro que é um pouco difícil, porque é preciso manter rigorosamente novos hábitos alimentares”.

A base da alimentação deve ser simples e natural: frutas, verduras, legumes, arroz, ovos, carnes frescas e leguminosas. Produtos industrializados até podem entrar, mas precisam ter selo de isenção de glúten e serem produzidos em ambientes seguros.

“Priorizar alimentos frescos e evitar ultraprocessados é o melhor caminho para manter o intestino saudável”, reforça Bottoni.

É importante destacar também que a contaminação cruzada nem sempre é tão óbvia. Utensílios de cozinha compartilhados, esponja de lavagem e até mesmo pano de prato podem conter glúten e contaminar a refeição de uma pessoa com doença celíaca.

“Em todas as etapas de produção do alimento: antes do preparo, durante a preparação, no armazenamento, no transporte — em tudo é necessário ter um cuidado rigoroso para evitar contaminação”, complementa Bottoni.

A doença celíaca tem cura?

Infelizmente, não. Mas a boa notícia é que, com a dieta adequada, a pessoa celíaca pode ter uma vida perfeitamente saudável e ativa. A exclusão do glúten é o único “remédio” eficaz — e é para sempre.

Por isso, o respeito às restrições alimentares é tão importante. Uma “escapadinha” ou uma contaminação acidental pode custar caro à saúde do celíaco.

Por que a conscientização é tão importante?

Viver com doença celíaca vai além de recusar uma fatia de pizza. Envolve atenção constante, adaptação social e, muitas vezes, solidão alimentar.

Além disso, o número de pessoas afetadas ainda é subnotificado: o diagnóstico leva tempo e exige muitos testes. Isso faz com que muitos pacientes permaneçam sem diagnóstico. E quanto mais tempo a condição se mantém sem tratamento, maiores os riscos de complicações.

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