O que você precisa saber sobre a nova vacina da dengue

O número de mortes por dengue apresentou um recorde histórico no Brasil no ano passado. Segundo o último boletim divulgado pela Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente, foram 1.060 óbitos no total – a cidade de São Paulo teve o maior número de vítimas fatais: 282.

Desde a primeira epidemia da doença documentada clínica e laboratorialmente no país, em 1981, mais de sete milhões de casos já foram notificados. E, nos últimos dez anos, têm-se observado o aumento da gravidade da doença e, consequentemente, de internações relacionadas à dengue.

Mas neste ano, 2023, a boa notícia é de que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou, no dia 2 de março, uma nova vacina contra a dengue, que poderá ser usada por crianças acima de 4 anos e pessoas até 60 anos. Desenvolvida pela farmacêutica japonesa Takeda Pharma, a vacina Qdenga mostrou uma eficácia de 80,2%, além de 90,4% de proteção contra hospitalizações.

Como funciona a nova vacina

O vírus da dengue tem quatro sorotipos diferentes. Na prática, isso significa que uma pessoa pode ser infectada até quatro vezes na vida. A nova vacina vale contra todos eles, pois é um imunizante que se baseia no sorotipo 2 do vírus atenuado: que permanece vivo, mas enfraquecido, sem capacidade de causar a doença (assim como acontece nas vacinas contra caxumba, febre amarela, poliomielite oral e sarampo). Quando a dose é injetada, o vírus é reconhecido pelas células de defesa e gera uma resposta imune capaz de proteger contra o patógeno de verdade.

A Qdenga será administrada em duas doses, com intervalo de três meses entre elas. A fabricante Takeda está avaliando a necessidade de reforço após alguns anos, apesar da eficácia num intervalo de cerca de 4 anos, quando continuou demonstrando redução de hospitalizações (84%) e de casos gerais (61,2%), como informou o laboratório em nota à imprensa.

“A aprovação dessa vacina é muito importante porque vai proteger contra uma doença prevalente e frequente no nosso meio. É um imunizante bastante seguro e eficaz para a faixa etária que foi aprovado”, afirmou Alfredo Elias Gilio, infectologista pediátrico e coordenador da Clínica de Imunizações do Hospital Israelita Albert Einstein.

No entanto, existem mais etapas até que ela esteja disponível para uso da população: “Após a aprovação da Anvisa, é necessário saber se o Ministério da Saúde vai incorporar esta vacina, qual será o público-alvo e se ela estará disponível para as clínicas privadas”, explica o especialista.

Novas vacinas em desenvolvimento

O Instituto Butantan também está desenvolvendo sua própria vacina contra a dengue, chamada de Butantan-DV, em um processo que começou em 2009. Em andamento desde 2016, a fase 3 do estudo envolve 16.235 voluntários de 2 a 59 anos, avaliados por 16 centros de pesquisa de diferentes regiões do país.

Um deles é o Hospital São Lucas da PUCRS. Na primeira semana de abril de 2023, o hospital iniciou um estudo em que não há a utilização de placebo, ou seja, todos os voluntários receberão um tipo de vacina, mas não terão conhecimento de qual laboratório é o imunizante.

A pesquisa tem aproximadamente 1.240 participantes randomizados da região Sul do Brasil. Esses voluntários serão acompanhados durante 12 meses, com visitas presenciais ao Centro de Pesquisa Clínica (CPC) do Hospital São Lucas e encontros remotos.

Prevenção ainda é o melhor remédio

Evitar a proliferação do mosquito Aedes Aegypti é ainda a maneira mais eficaz no combate à dengue. Elimine qualquer água armazenada que pode se tornar um possível criadouro, como em vasos de plantas, latões, pneus, garrafas plásticas, piscinas sem uso e sem manutenção, e até mesmo em recipientes pequenos, como tampas de garrafas.

Medidas simples podem ser adotadas: substituir a água por areia nos pratos sob vasos de planta; deixar a caixa d’água tampada; cobrir os grandes reservatórios e remover do ambiente todo material que possa acumular água.

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