Maternidade após os 50: tratamentos de fertilidade são opção para gestações tardias

Avanços na medicina acompanham a mudança de comportamento de mulheres que optam por adiar a maternidade e possibilitam gestões de forma segura

A idade fértil das mulheres nem sempre está alinhada com a vontade de ser mãe. A busca por uma boa performance na carreira, por vezes, se sobrepõe ao plano de ter filhos, e o adiamento da maternidade pode encontrar uma barreira no corpo feminino: a qualidade e a quantidade de óvulos que, em geral, caem muito após os 35.

Quando a vontade de ser mãe se manifesta mais tardiamente, tratamentos de fertilidade podem contribuir para a realização desse objetivo.

A medicina permite, inclusive, que a gestação ocorra em mulheres que já estão na menopausa – período em que a fertilidade feminina chegou ao fim, o que ocorre por volta dos 51 anos, em média.

Segundo Mariana Cassará, ginecologista e obstetra especialista em reprodução humana da Maternidade São Luiz Star, nesses casos é possível fazer uma FIV (Fertilização In Vitro) com óvulos próprios congelados, doados ou com a recepção de um embrião congelado.

Tratamentos disponíveis

Como a menopausa interrompe a produção de óvulos, a FIV pode ocorrer de três formas: com um óvulo da própria mulher, caso ela tenha congelado anteriormente; com um óvulo doado; ou com a recepção de um embrião próprio ou doado (com óvulo e espermatozoide já fecundados).

  • FIV com óvulo próprio, congelado:

Ocorre quando a mulher, ainda em idade reprodutiva, congela os próprios óvulos, idealmente até os 35 anos. Para fazer o congelamento, ela passa por um tratamento com injeção de hormônios, para liberar mais óvulos em um único ciclo. Com isso, a coleta dos gametas torna-se mais efetiva.

Após a retirada, os óvulos são armazenados. A técnica usada atualmente é a da vitrificação, um congelamento ultra rápido em que os óvulos são submersos em nitrogênio líquido, o que “permite que ele ‘pare no tempo’ e, com isso, conseguimos preservar a sua qualidade”, como explica Cassará. Quando se descongela, alguns óvulos podem ser perdidos, mas a taxa de sobrevivência é de cerca de 90%, segundo a médica.

Após o descongelamento, ocorre a fertilização in vitro, quando o espermatozoide é injetado dentro do óvulo, em laboratório, e segue-se a formação do embrião. O gameta masculino usado nesse procedimento pode ser de um doador ou do parceiro dessa mulher.

Para receber o embrião, é preciso fazer um preparo hormonal do útero, com comprimidos. Após cinco a seis dias, o embrião formado é colocado dentro do útero e, caso os óvulos tenham sido congelados até os 35 anos, a chance de gravidez gira em torno de 50% de nascidos vivos, segundo Cassará.

  • FIV com óvulo doado, congelado:

No Brasil, o comércio de óvulos não é regulamentado. Já a prática mais frequente, de ovodoação (doação de óvulos) pode ser realizado.

Cassará explica que, nesses casos, a doação vem de mulheres que estão passando pelo tratamento de estimulação da ovulação para coleta e são incentivadas a doarem parte da produção, chamada de doação compartilhada.

Assim, se na estimulação da ovulação foram coletados 20 óvulos, a mulher doa 10, por exemplo, e fica com os outros 10 para si. Há clínicas que estimulam ciclos separados – em um deles, a mulher congela os óvulos para uso próprio, em outro, para a doação. Em troca, além da prática altruísta, elas recebem descontos no tratamento.

A ovodoação só pode ser feita por pessoas maiores de idade, com limite máximo de 37 anos.

Segundo Cassará, na Europa e em países da Ásia ou mesmo da América do Sul, como a Argentina, há a possibilidade de comprar óvulos em clínicas especializadas. E, segundo a Anvisa, é possível fazer a importação do óvulo, caso seja interesse da mulher no Brasil.

A partir disso, a técnica usada é a mesma descrita acima, a FIV. A fertilização ocorre em laboratório, espera-se cinco a seis dias para a formação do embrião e, depois, ele é implantado no útero da mulher, que passou por tratamento para recebê-lo. A taxa de sucesso é a mesma do caso anterior. Se o óvulo congelado vier de uma mulher de até 35 anos, a chance deste bebê nascer vivo é de 50%.

  • Embrião congelado:

Ocorre com maior frequência quando um casal está decidido a ter filhos, mas adia a gestação e congela o embrião já formado. Ou, ainda, quando casais passam pelo tratamento da fertilização, têm embriões excedentes e doam o material.

O processo de formação do embrião é o mesmo dos casos anteriores: a mulher estimula a produção de óvulos – idealmente, antes dos 35 anos – coleta e faz a fertilização em laboratório com o sêmen do parceiro. Após cinco a seis dias, quando o embrião se forma, faz-se o congelamento, segundo Cassará.

É possível gerar e congelar embriões com sêmen de doador, mas esses casos são mais raros, de acordo com Cassará. Normalmente, quando a mulher tem o óvulo e não tem parceiro, ela opta por congelar o próprio material e decidir futuramente se a fecundação ocorrerá com um parceiro ou com doador.

Após o descongelamento, esse embrião é transferido para o útero da mulher, que pode estar fora da idade reprodutiva – o que importa, também neste caso, é a idade em que o óvulo foi coletado e fecundado.

Queda de fertilidade após os 35 anos

Diferentemente da produção contínua de espermatozoides nos homens, a fertilidade da mulher diminui com a idade, ou seja, o estoque de óvulos não se recompõe. Elas nascem com um número determinado de gametas, que vão sendo liberados do ovário a cada ciclo menstrual. 

Por volta dos 35 anos, a qualidade e a quantidade dos óvulos diminui consideravelmente, segundo Cassará. “A chance de gravidez espontânea aos 30 anos é de cerca de 20% ao mês; aos 40 anos, cai para 5% ao mês, e a partir dos 45 é menor que 1% ao mês”, afirma a ginecologista. 

Esse declínio ocorre porque, a partir dos 45, em média, a mulher começa a se aproximar da menopausa – nome que se dá ao último ciclo menstrual. No entanto, o diagnóstico só ocorre após 12 meses consecutivos sem menstruar e por meio de exame de dosagens hormonais, como a de FSH (hormônio folículo-estimulante produzido pela hipófise). 

No Brasil, um estudo populacional feito na cidade de Campinas (SP) observou que a média etária da menopausa foi de 51,2 anos. Antes disso, a mulher está no que é chamado de climatério. 

Por isso, é errado dizer que uma mulher engravidou espontaneamente na menopausa – clinicamente, isso é impossível. Mas é possível dizer que ela engravidou espontaneamente no climatério, segundo o que explica Cassará. 

No caso de gestação espontânea tenha acontecido após os 50 anos e sem tratamentos, essa mulher provavelmente ainda não havia entrado na menopausa.

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