Cenário geral dos hospitais, neste momento

O momento dos hospitais é muito desafiador, basicamente porque estamos sofrendo uma enorme pressão por parte das operadoras de planos de saúde, em função do aumento da sinistralidade. Elas partiram para uma política muito agressiva de glosa e de adiamento nos pagamentos dos serviços prestados pelos hospitais. Então os hospitais estão tendo o seu fluxo financeiro enormemente apertado em função da ação das operadoras. O movimento dos hospitais é um bom movimento, nós recuperamos uma ocupação parecida com aquela prévia à pandemia. Então os serviços estão sendo prestados, o número de pessoas que passam pelos hospitais, os tratamentos, as cirurgias, tudo recuperou certa normalidade. Qual é o problema, então? É preciso receber o pagamento pelos serviços que se presta, e esse pagamento não está chegando, porque ele está sendo obstaculizado pelas operadoras dos planos, que em cima da sinistralidade alta tentam resolver o fluxo de caixa delas, interferindo no fluxo de caixa dos hospitais.

CONSEQUÊNCIAS DO APERTO FINANCEIRO

Diante desse cenário é evidente que os hospitais, com o caixa apertado, têm tomado duas atitudes. A primeira é revisar custos diariamente em busca de possíveis ineficiências que possam ser cortadas. Em segundo lugar, adiar investimentos. A maioria absoluta dos hospitais está jogando os investimentos para depois, porque o recurso para esses investimentos apenas poderia ser obtido no mercado, mas com a alta taxa de juros, é óbvio que nenhum gestor responsável vai fazer investimento tomando recursos no mercado financeiro.

COMO AS OPERADORAS TÊM AGIDO

Elas têm usado um conjunto de estratégias para, na verdade, adiar o momento de pagar pelos serviços que os hospitais prestaram. Exemplos disso: primeiro, elas decidem estabelecer limites de faturamento por mês, ou seja, não importa quantos serviços o hospital tenha prestado no mês, o hospital não pode cobrar a não ser x% dos serviços que ele prestou. Segundo exemplo, a cobrança é aceita pelas operadoras, mas elas atrasam o momento do pagamento daqueles serviços. O prazo médio que era de setenta e poucos dias, hoje está perto de 120 dias. Terceiro e último exemplo, aplicar glosa, que é estabelecer uma segunda auditoria às vezes, sobre a despesa hospitalar, para ganhar tempo. Os hospitais não são contra a glosa, mas visivelmente a glosa está sendo deturpada para ajudar no ajuste financeiro das operadoras.

O MOMENTO DAS OPERADORAS COM AUMENTO NO NÚMERO DE BENEFICIÁRIOS

Acontece que o aumento no número de beneficiários veio acompanhado de uma escolha por planos mais baratos. Então, se você olhar para o número de beneficiários, ele aumentou, passou para 50.5 milhões de pessoas, mas a maioria das pessoas está optando por planos mais baratos, então o valor é menor do que eles pagavam antes. No final do dia, você pode ter um maior número de beneficiários, mas não tem uma entrada de recursos proporcional.

O DESEQUILÍBRIO DOS HOSPITAIS

É uma relação em que as operadoras ficam com a faca e o queijo na mão, elas recebem a conta, informam que não têm como pagar e não pagam, adiam. Isso tem gerado um momento de muita tensão entre os hospitais e as operadoras. Nós defendemos a sustentabilidade das operadoras, nós queremos ver as operadoras fortes e saudáveis, agora, não é possível que esse equilíbrio se faça desequilibrando os hospitais, isso não resolve.

SOLUÇÕES PARA O PROBLEMA

O sistema tem dois tipos de dificuldades. As estruturais, como ineficiências, e a necessidade de reformas, que são projetos para médio e longo prazos. E existem as conjunturais, alta taxa de juros, desemprego, questão de renda. Então, eu te diria que no curto prazo depende muito da melhoria da economia brasileira. No médio e no longo prazos, de uma profunda reforma no sistema de saúde suplementar.

EFEITO DO PISO DA ENFERMAGEM

Não existe uma pessoa que negue a necessidade de valorizar a enfermagem. O que está errado é a lei do jeito que foi aprovada, estabelecendo um único salário, do Acre à São Paulo, de Porto Alegre à Roraima. É óbvio que o salário que pode ser pago por um grande hospital na avenida Paulista em São Paulo não pode ser o mesmo salário de um pequeno hospital no interior do Acre. Então, o que acontece é que a lei, carregada de boas intenções, não cabe na realidade brasileira. Os hospitais públicos não têm dinheiro para pagar, e os hospitais privados, que em sua maioria são pequenos e médios, também não têm dinheiro para pagar. O que a gente espera é que o Supremo Tribunal Federal encontre uma solução de equilíbrio porque ninguém quer deixar de valorizar a nossa enfermagem.

IMPACTO DO REPRESAMENTO DE PROCEDIMENTOS ELETIVOS

Esse impacto já passou. A gente entende que os hospitais voltaram a uma certa normalidade, porque felizmente os efeitos devastadores da Covid já passaram. Esse não é hoje o problema dos hospitais. O problema é que os hospitais estão recebendo as pessoas, prestando os serviços, mas não recebem pelo serviço prestado.

CONSEQUÊNCIAS DA CRISE FINANCEIRA

Os hospitais não podem abrir mão de assegurar qualidade na assistência que prestam aos seus pacientes, este é um dever ético e empresarial. O que está acontecendo é um adiamento dos investimentos, eles acabarão sendo feitos, mas não serão feitos no prazo e na velocidade que anteriormente haviam sido previstos. Então, os hospitais que pretendiam inaugurar novos leitos, comprar mais robôs e incorporar novos serviços, o que eles estão fazendo: estão olhando para o caixa e dizendo, olha nós não temos recursos para fazer isso rapidamente. E passam, então, a fazer muito lentamente ou deixar para quando a maré melhorar.

USO DE DADOS DOS PACIENTES

Os dados de um paciente pertencem ao paciente, e ninguém pode usar ou tomar esses dados sem a autorização do paciente. Então no setor hospitalar não há nenhuma dúvida de que nada, absolutamente, pode ser feito sem o expresso consentimento do paciente. A ideia de interoperabilidade de dados, prontuário eletrônico, é inevitável. Mais dia, menos dia, o Brasil terá que caminhar para isso. E a gente espera, apesar dessa crise atual, que essa seja uma das grandes reformas de médio e longo prazo.

O QUE ESPERAR DE 2023/2024

Esse vai ser um ano extremamente difícil, marcado por uma enorme tensão entre as operadoras e os prestadores de serviço, e a gente espera que o Brasil e o setor melhorem em 2024, pois não adianta pensar no setor sem pensar no país como um todo. Queremos o que todo brasileiro quer: gente empregada, gente ganhando melhores salários, mais gente contratando plano de saúde, de modo que o sistema de saúde suplementar se fortaleça como um todo.

DESONERAÇÃO DA FOLHA DE PAGAMENTOS

Nós não conseguimos compreender por que a saúde não está incluída entre os 17 setores que têm desoneração. Com todo o respeito aos nossos amigos dos curtumes, dos frigoríficos, dos call centers, nós não achamos que o setor de saúde seja menos merecedor e menos empregador. Nós queremos que alguém explique o que esses 17 setores têm que o setor de saúde não tem. E, obviamente, se você retirar a oneração sobre a folha, isso ajudaria para que um setor que é enormemente empregador pudesse empregar mais pessoas.

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