Silvana Ricardo
Infectologista e coordenadora do Serviço de Epidemiologia e Controle de Infecção Hospitalar da Rede Mater Dei de Saúde
As infecções relacionadas à assistência à saúde, anteriormente denominadas “infecções hospitalares”, são uma grande ameaça à segurança do paciente. No mundo, milhares de pessoas morrem todos os dias devido a infecções adquiridas durante a recepção de cuidados médico-hospitalares. Reconhecido como um grave problema de saúde pública da atualidade, a sua relevância não se resume à elevada frequência, mas a alta morbimortalidade e ao impacto econômico significativo para pacientes e serviços de saúde.
No Brasil, estima-se que 3% a 15% dos pacientes hospitalizados desenvolvem alguma infecção. O conhecimento dos mecanismos de disseminação de germes hospitalares aponta as mãos dos profissionais de saúde como importante modo de transmissão indireta, que promove a colonização da pele do paciente e posterior desencadeamento do processo infeccioso. Por esse motivo, a higiene das mãos é considerada a medida de maior impacto e comprovada eficácia na prevenção das infecções relacionadas à assistência a saúde, uma vez que impede a transmissão cruzada de microrganismos.
Estudos mostram que uma maior adesão às práticas de higienização das mãos está associada à redução nas taxas de infecções, mortalidade e transmissão de microrganismos multirresistentes em serviços de saúde. Embora a higienização das mãos seja uma ação simples, a não adesão a esta prática pelos profissionais de saúde ainda é considerada um desafio no controle de infecção dos serviços prestados.
Em 2004, a OMS propôs a “Aliança Mundial para a Segurança do Paciente” para reduzir os riscos inerentes às infecções relacionadas à assistência à saúde. A proposta tem o comprometimento formal de vários países do mundo, inclusive o Brasil.
O primeiro Desafio Global de Segurança do Paciente é focado na higienização das mãos e tem como lema “Uma Assistência Limpa é uma Assistência mais Segura”. O objetivo é o envolvimento de todos os níveis de cuidados de saúde, por meio da promoção das melhores práticas de higiene das mãos.
Há dez anos, a OMS instituiu o dia 5 de maio como o Dia Mundial de Higiene das Mãos, em referência aos cinco momentos em que os profissionais devem realizar essa ação. Por meio do documento “Estratégia Multimodal da OMS para a melhoria da higienização das mãos”, criou um guia auto-instrutivo, acessível a qualquer tipo de instituição. Um dos grandes méritos dessa ferramenta é definir, de forma simples e compreensível, as situações em que os profissionais devem lavar as mãos com água e sabão ou friccionar álcool 70%, de acordo com o fluxo de cuidados prestados.
A Rede Mater Dei de Saúde, atenta a essas questões, adotou como meta institucional a higiene adequada das mãos dos profissionais como importante medida de prevenção das infecções hospitalares e segurança do paciente. A adesão voluntária às diretrizes da OMS e a implantação da “Estratégia Multimodal” foi um marco na melhoria dos resultados. Em 2010, a Rede estabeleceu um sistema de monitoramento da adesão por meio dos indicadores por equipe, centrado no corpo clínico e enfermagem, com feedback periódico aos profissionais.
Os esforços da instituição foram reconhecidos em 2014 pela própria OMS. Após vistoria de experts, liderados pelo idealizador da campanha mundial, prof. Didier Pittet, o programa estabelecido no Mater Dei foi contemplado com o Prêmio Latino Americano de Excelência e Inovação na Higienização das Mãos 2014. Com o prêmio, a responsabilidade de transformar o hospital em replicador nacional das boas práticas em higienização das mãos e contribuir para a promoção de uma assistência segura de maneira sustentada.
Fonte: Rede Mater Dei de Saúde – 06.05.2015