2017: um ano para esquecer

Há diversos episódios em nosso passado que fazem o Brasil ocupar o seu lugar na história. Repetimos esse feito em 2016, com um fato sem paralelos que nos colocou sob os holofotes de todo o planeta: somos o palco do maior caso de corrupção e de pagamento de suborno na história mundial, protagonizado pela Odebrecht e pela Braskem. Para um ano que está terminando, mas que parece mesmo é interminável, podemos nos considerar sobreviventes. Resistimos a um ciclo de revolução e subversão, agressivo e traumático, como se, a cada dia, um ente querido nos deixasse.

Pulsa o sentimento de luto eterno.

Eu gostaria de acreditar em iminentes chances de nosso renascimento como nação e cidadãos. Mas a verdade é que, nem mesmo para o mais persistente dos homens e dos militantes das causas justas, a proximidade de 2017 produz um grande alívio. Este será um ano de transição, de passagem, em que todos teremos de nos equilibrar sobre bases ainda frágeis e trepidantes.

Do ponto de vista político, talvez possamos iniciar um processo de reflexão sobre o novo perfil de líderes que gostaríamos de ver nos representando. Continuaremos com nossas agruras econômicas, porém, com alguma possibilidade de amenizar essas questões. Teoricamente, alimentamos as oportunidades de destacar pessoas mais comprometidas com a ética e com segmentos sensíveis, como economia, educação, agricultura e saúde. Líderes que se comportem como batalhadores, defensores desses setores. Mas, a realidade é mais pragmática: 2017 não será – e sinto se irei frustrar as suas expectativas com essa afirmação – um ano de transformações.

Na saúde, as perspectivas mais parecem uma ilusão da memória que nos traz a sensação de que já estivemos nesse mesmo lugar antes. Só que não se trata de alucinação. A visão cada vez mais centrada na doença e menos na saúde irá perdurar no ano que se inicia, consagrando instituições públicas e lideranças setoriais alinhadas com esse pensamento que nos aprisiona. Exames que não foram realizados, marcação de cirurgias, pagamentos de consultas, entre outras discussões superficiais e infindáveis, terão distantes a conclusão que verdadeiramente nos importa: o diagnóstico mais consensual possível entre os players do setor, pensando, juntos, novos modelos de remuneração e uma solução mais estruturada para a saúde.

Enquanto não abandonarmos nossas verdades parciais e assumirmos um objetivo único, vagaremos como Alice em uma obra de Lewis Carroll: “se você não sabe para onde ir, qualquer lugar serve”.

Como podemos, então, enfrentar um ano de mais do mesmo, de espera prolongada e sonhos adiados?

Temos de manter a confiança na renovação democrática e republicana. Essa é a luta que escolhemos, a única possível. E um dos pilares de nossa democracia é o judiciário.

A caça às pessoas mal-intencionadas, corrompidas pela ideia de que o sucesso só acontece sobre o prejuízo do direto do outro, ajudará nosso País a estiar os seus pecados. Então, quando finalmente chegar 2018, poderemos, aí sim, acreditar na possibilidade de reconstrução de nossas ruínas.

Até lá, que tenhamos fé e serenidade para recuperar nossas forças, curar nossas doenças, recobrar nossa capacidade de realização. E que tenhamos, também, um pouco de carinho por nossas vulnerabilidades. Porque, se já provamos que a dor é um meio implacável de evolução, também temos a chance de experimentar, por meio da fé, a posse antecipada daquilo que desejamos.

Compartilhe

Você também pode gostar: