Martin Ingvar traz proposta de benchmarking global para mensurar desfechos no último dia do Conahp 2019

Médico diz que hospitais têm uma massa crítica de conhecimento que precisa ser compartilhada ao longo da jornada do paciente

No terceiro e último dia desta edição do Conahp, os congressistas acompanharam a palestra “A Construção de um benchmarking global para mensuração de desfechos”, comandada pelo professor do Instituto Karolinska, Martin Ingvar. Em sua apresentação, o especialista afirmou que o papel do médico está fragmentado. “Hoje todo mundo tem acesso ao ‘dr. Google’. Isso de certa forma coloca o papel do profissional em questão à medida que o médico acaba sendo contestado”, afirmou.

Ingvar ressaltou que o especialista deve orientar. “Ele precisa ser centrado no paciente, é necessário aconselhar além do problema físico em questão. É preciso olhar o aspecto social auxiliando mudanças de estilo de vida que podem afetar o bem-estar das pessoas”.

Moderador do painel, o CEO do Hospital Infantil Sabará, Ary Ribeiro, disse que o tema do painel tinha como proposta provocar reflexões para que os hospitais se integrem e constituam o sistema para que as lideranças e gestores hospitalares “transformem sua maneira de pensar entendendo que o momento atual requer a melhor relação possível entre o que entregamos aos pacientes e o que consumimos de recursos”, disse. Segundo ele, o hospital precisa estar integrado no cuidado e “nesse conceito uma das questões fundamentais é medir o que se
entrega ao paciente e, para isso, é preciso usar padrões que possam ser reproduzidos e comparados”.

O paciente no centro Martin Ingvar disse que os prontuários médicos não fornecem informações sobre o estilo de
vida, são mais um acervo e funcionam como uma garantia jurídica para o médico e, também, para o hospital. “Os dados em si são uma alavanca secundária tentando registrar o que foi feito”, definiu.

Segundo ele, muitas vezes o médico tem um plano de cuidado que não é o suficiente porque ele não é colocado de forma estruturada. “Existe um conhecimento desconectado que não pode ser compartilhado”, sintetizou. “Se você quiser compartilhar, precisa enviar uma pilha de dados para que eles façam sentido. Temos interoperabilidade de dados, mas não temos interoperabilidade semântica porque não consigo transmitir meu pensamento. Esse é parte do
problema estrutural na área de saúde”, afirmou.

A informática pode ajudar?

O especialista disse em sua apresentação que “de forma interoperacional podemos transferir dados entre hospitais, profissionais e pacientes, mas há muitas coisas que precisam ser feitas, e muitos de nós estamos fazendo pouco. Há dados sendo destruídos antes de serem analisados”, lamentou.

Para ele, o cuidado centrado no paciente acontece quando as informações do sistema estão alinhadas com suas necessidades. Ingvar disse que os hospitais ainda estão presos na década de 90 e é preciso organizá-los. “Os hospitais têm uma massa crítica de conhecimento que precisa ser compartilhada ao longo da jornada do paciente, caso contrário, é desperdício”.

Ele explicou que o valor é uma multidimensão de diferentes questões que não estão baseadas apenas no diagnóstico, mas na saúde e qualidade de vida. “É mais importante medir a qualidade. As pessoas da área de saúde não estão ali para contar dinheiro, elas estão lá pelas razões corretas: cuidar da saúde das pessoas. É preciso incentivá-las na qualidade”.

Ingvar disse que o que se faz hoje é juntar cadastro de qualidade, prontuário e a rota de pesquisa sem um padrão e com a voz do paciente. “O paciente encontra com o médico e toma sua própria decisão. Há muito o que ser modificado na área da saúde para que o paciente se sinta mais valorizado”.

Quando o paciente passa por diferentes médicos tem que repetir a mesma história a cada consulta. “É frustrante. A informação sem estrutura, sem coordenação em diferentes unidades é desperdício”, definiu. Segundo ele, no sistema moderno, a informação viaja com o paciente em todo o sistema e com isso é possível ter registro fragmentado, mas o plano de cuidado é compartilhado ao longo de todo o fluxo. “Ainda trabalhamos em um modelo pré-internet, mas
o paciente está conectado e exige essa consonância”, analisou.

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