Experiência holandesa da Erasmus University no cuidado à saúde

Centralização no paciente, ambiente de cura, conectividade com foco no mundo externo e flexibilidade são princípios fundamentais para um hospital

Trazendo um case de sucesso internacional no segundo dia do Conahp 2019, Ernst Kuipers, CEO da Erasmus University Medical Center, apresentou a palestra “Por que o sistema de saúde holandês é uma referência para o mundo todo?”. O painel teve a participação de Miguel Cendoroglo, diretor superintendente do Hospital Israelita Albert Einstein, como moderador.

O palestrante afirmou que, mesmo com o aumento da longevidade humana, ainda há muito o que ser feito para melhorar a expectativa de vida. “Não há nada de tão inovador. A maioria das drogas que temos disponíveis contribuem para melhorar a expectativa de vida em um mês, algumas em apenas minutos, horas. Temos muito o que fazer em termos de melhoria de expectativa da vida, já vimos avanços, mas gostaríamos de continuar evoluindo, há muitos desafios comuns a todos nós”.

O primeiro desafio apontado por Ernst Kuipers é que o cuidado da saúde é muito intensivo em termos de trabalho. “O trabalho em equipe é fundamental, no futuro próximo terá uma especialização muito maior, mas a interação com essas especialidades tem que ser muito mais forte”.

Com o aumento da longevidade, surge outro desafio. “A população fica cada vez mais velha. O cuidado à saúde é muito caro, o custo per capita é absurdo. Todos os países estão gastando muito em saúde e obtendo resultados que nem sempre são os melhores, a despesa sempre aumenta mais em saúde do que aumenta o PIB, há uma discrepância”, disse. “Como vamos enfrentar isso? É muito intensivo, o avanço produz equipamentos tecnológicos sofisticados, e tudo isso encarece mais ainda a medicina”.

“Os desafios são grandes, temos que trabalhar juntos em inovação para esses obstáculos e em qualidade. Só assim levaremos a cobertura do plano privado a uma maior parte da população brasileira”, ressaltou. “Dependendo da área geográfica onde a pessoa vive, a expectativa de vida é diferente. É importante investir em modelos sustentáveis, teremos que encontrar soluções juntos, há um motivo muito importante para eu vir em um encontro como este”.

Ele fez comparações entre o Brasil e a Holanda, ressaltando que a Holanda é quem deveria aprender conosco: “A Holanda tem a extensão e população que deve representar um bairro de São Paulo”.

Segundo o holandês, os hospitais da Holanda estão cada vez mais empenhados em não apenas cuidar do paciente, mas em mantê-los longe do local de tratamento. “Temos programas de prevenção e cuidados com a comunidade, utilizando big data para trabalhar com as pessoas, e temos os mesmos desafios dos outros países. Na Holanda existe um sistema nacional onde cada pessoa é identificada, recebe um pedido de exame, a partir daí verificamos se deve participar de nossos programas de saúde e conectamos aos laboratórios”.

O foco agora é um programa nacional que visa garantir a saúde de crianças e jovens. “Queremos, por exemplo, garantir que as crianças não fumem. Requer muito esforço criar uma geração sem tabaco, nos hospitais precisamos trabalhar criando uma sociedade vital, desde a gravidez, para tentar prever algumas condições. Na prevenção ao tabagismo, me centrei na prevenção ao câncer, e estamos liderando essas ações na Europa. Em nossos programas, temos uma pontuação muito alta, o foco é trabalhar juntos para liderar essas organizações complexas indicando determinada direção. Sabemos que é um desafio, mas é possível, e pode ser feito através de guias, aderência a diretrizes, prevenção”.

Outra ação da Holanda busca reduzir a utilização de antibióticos. “Sabemos quais antibióticos os médicos de família prescreveram, nós temos guias e recomendações quando são prescritos, nosso trabalho tem compensado porque registramos menos uso de antibiótico na Europa. Em muitos casos, o uso de antibióticos nos primeiros anos de vida não é necessário, na verdade causa dano em vez de melhorar. A prescrição para criança leva a problemas”.

Ernst Kuipers enfatizou que “se o setor se concentrar na meta de fornecer cuidado à saúde e prevenção para todos os cidadãos, não precisará se concentrar no paciente que vai voltar para a UTI ou na taxa de hospitalização”. “É importante comparar as iniciativas dos países e essa comparação vai mostrar que os pacientes não têm os mesmos sintomas nem as mesmas expectativas dos funcionários, dos médicos, não têm os mesmos sentimentos em relação a resultados. Por isso a troca é muito importante. E por isso trouxe o exemplo do que fazemos no hospital Erasmus, temos uma equipe especializada no cuidado à saúde com base em valor, muito apoiada pelos profissionais TI. Essas ações são inteligentes e ajudam a direcionar investimentos para outras áreas”.

O palestrante contou que o Erasmus trabalha com quatro princípios norteadores que parecem simples, mas não são: centralização no paciente, ambiente de cura, conectividade com foco no mundo externo e flexibilidade.

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