Complexidade populacional é desafio para implantação do modelo de saúde baseada em valor no Brasil

Experiências de outros países servem como base, mas diferenças culturais e geográficas impõem características únicas

No Reino Unido, o modelo de saúde baseada em valor é uma realidade. Aliás, uma realidade que teve a participação fundamental da brasileira Juliana Bersani, cofundadora da Out Comes Based Healthcare, empresa sitiada em Londres que organizou toda a base de dados para que o sistema fosse implantado para população inglesa.

O assunto foi tratado durante o último dia do Conahp (Congresso Nacional de Hospitais Privados), realizado pela Anahp (Associação Nacional de Hospitais Privados), em São Paulo, entre os dias 26 e 28 de novembro. O evento reuniu mais de 100 palestrantes em torno de temas relevantes para o setor da saúde suplementar.

“No Reino Unido, havia uma diversidade enorme de modelos de pagamentos dentro do sistema, quando começamos, há oito anos. Criamos todo o mecanismo de armazenamento, cruzamento e segmentação desses dados para 57 milhões de pessoas. Esse trabalho gerou 2 bilhões de linhas de programação dentro desse sistema”, conta Juliana.

Os números que mostram o tamanho e a grandeza do trabalho, entretanto, estão muito longe da realidade brasileira. No Brasil, o SUS (Sistema Único de Saúde) começa agora o processo de padronização de dados, e por enquanto, para os quase 210 milhões de habitantes, o sistema já mostra 600 bases de dados diferentes que gerariam mais de 50 bilhões de linhas de programação. Ou seja, 25 vezes mais do que no Reino Unido.

“Aqui os desafios são outros. Pesquisas mostram que, em média, menos da metade dos dados estruturados das empresas é usado ativamente nas tomadas de decisão – e menos de 1% dos dados não estruturados são usados ou sequer analisados”, diz Rodrigo Lopes, CEO do Grupo Leforte.

Mas o Brasil também mostra uma vantagem em relação ao Reino Unido. “Apesar desses dados não se ‘conversarem’, eles são alimentados no sistema com maior rapidez. Aqui as estatísticas chegam ao Datasus em três meses, enquanto no Reino Unido pode demorar até um ano. Por outro lado, ainda são dados muito básicos”, reforça Lopes.

“Não existe garantia na gestão de saúde, existe trabalho duro. Mas precisamos ter informação, trabalhar com dados e estruturas consistentes e cada vez mais preparar a equipe para interagir com todos os personagens atuantes no sistema”, finaliza Juliana.

 

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