Vitória recebe discussão sobre valor para o paciente

Evento aborda o papel dos hospitais na construção de um modelo de atenção com foco no cuidado centrado no usuário do sistema

Mohamed Parrini, presidente do Comitê Científico do Conahp 2019, e Ary Ribeiro, vice-presidente da Anahp – Foto: Gustavo Rampini

O primeiro Seminário Pré-Conahp do ano, realizado em abril, levou até Vitória (ES) especialistas para discutirem o papel dos hospitais na construção de um modelo de atenção com foco na entrega de valor para o paciente. As discussões foram pautadas em torno da relação entre desfechos clínicos, experiência do paciente e custo dos serviços relacionados aos resultados obtidos.

O vice-presidente do Conselho de Administração da Anahp, Ary Ribeiro, e o presidente do Comitê Científico do Conahp 2019, Mohamed Parrini, abriram o encontro explicando o conceito da saúde baseada em valor. Em sua fala, Ribeiro reforçou a importância de estimular a reflexão dos gestores. “A temática do seminário, saúde baseada em valor, foi proposta para refletirmos o papel dos hospitais como agregador – sendo um elo na cadeia de assistência de saúde, estimulando a mudança de práticas para gerar valor aos usuários”, afirmou.

Ribeiro esclareceu que valor em saúde não pode se resumir a implementar modelos de relacionamento comerciais, cujo objetivo é reduzir despesas. “A redução do custo para o sistema é um elemento do conceito de valor como uma consequência, não como uma finalidade. O conceito de valor em saúde se remete a uma relação entre desfechos clínicos, assistências, sob a ótica do paciente, daquilo que é mais importante para ele”, pontuou.

Neste sentido, o vice-presidente explicou que a questão do modelo de remuneração tem que ser vista como uma evolução do modelo assistencial. “Nós nunca vamos ter um só modelo de remuneração e isso é saudável. O fee for service pode continuar existindo, pode ser útil em alguma situação. A composição de diversos modelos é adequada”, acrescentou.

Já Parrini alertou que somente as instituições que considerarem o paciente como protagonista, no centro de tudo, irão sobreviver. O especialista também reforçou que o papel do setor é discutir temas benéficos para a população e identificar aqueles que podem gerar riscos para cadeia do sistema de saúde a médio e longo prazo.

Experiência do paciente

O segundo debate do seminário foi sobre a experiência do paciente. Moderando a conversa, o diretor geral do Hospital Meridional, Antônio Alves Benjamin, comentou sobre a integração da rede de cuidado do paciente como um dos grandes desafios da saúde suplementar. “O hospital vai estar no centro desse processo, acho que estamos mais preparados do que os outros segmentos da cadeia”, afirmou.

Na sequência, Mônica Rosenberg, que vivenciou o processo de internação de seu marido e, a partir daí, passou a trabalhar com o tema, compartilhou a sua experiência apontando os benefícios na relação entre o usuário e a instituição de saúde. “Valor é o que o paciente percebe sobre os investimentos. Se este dinheiro gasto não foi percebido, foi jogado fora”, enfatizou.

Para Mônica, é importante que as instituições estejam engajadas em ter o paciente ao lado e ativo, para então voltar a confiar no sistema. “É uma relação que tem que ser multilateral”, completou ela, que fez parte do Conselho Consultivo de Pacientes do Hospital Israelita Albert Einstein em seu início.

Na opinião de Mauro Oscar, superintendente do Hospital Márcio Cunha, é preciso mudar a mentalidade: “Temos que parar de pensar em organizações isoladas em ilhas e pensar em redes de assistência em saúde. Todos são importantes e todos nós somos um paciente em potencial”. Segundo ele, outro ponto fundamental é o incentivo das lideranças para que os funcionários adotem esse pensamento. “A liderança tem que certificar que as equipes tenham poderes para fazer alterações, garantir que o feedback dos pacientes seja transformado em plano de ação; incluir dados em tempo real – é um grande desafio pra gente hoje; e reconhecer a ligação entre experiência do paciente e bem-estar dos colaboradores”, ressaltou.

Assim, Lia Canedo, diretora clínica do Hospital Metropolitano, acrescentou que a experiência do paciente é extremamente influenciada pelo colaborador. “Você pode fazer o que for na instituição, mas se o profissional não estiver engajado, esse trabalho se perde. A gestão de pessoas é um processo básico nesse processo”, disse. Por fim, o diretor presidente do Hospital Santa Genoveva, Gilson Fayad, acredita que “quando se entende que a participação do paciente no tratamento é importante, é quando começamos realmente a ser um hospital” e que a melhor maneira de conquistar isso é criando protocolos clínicos, de segurança e mudando a cultura.

Benjamin, Hospital Meridional; Mônica; Oscar, Hospital Márcio Cunha; Fayad, Hospital Santa Genoveva; e Lia, Hospital Metropolitano – Foto: Gustavo Rampini

Modelo Assistencial

Outro destaque do Seminário Pré-Conahp foi a mesa-redonda a respeito da implementação de novos modelos assistenciais baseados na entrega de valor para o paciente, bem como a sua relação com a sustentabilidade econômica das instituições.

O diretor de Unidades Externas do Hospital Sírio-Libanês, Fábio Patrus, deu início às apresentações mostrando um recorte de como sua instituição tem olhado para a atenção primária. “Foi uma decisão estratégica expandir a linha do cuidado e, para isso, a gestão da atenção primaria é o caminho. Nossa conclusão é que não adianta viver da consulta do pronto-socorro, é importante essa receita, mas ela não virá mais no futuro”, esclareceu, comentando que até o final deste ano o hospital contará com 22 unidades externas implantadas em empresas, atendendo cerca de 112 mil vidas do ponto de vista da atenção primária.

Já a gerente de Segurança Assistencial do Hospital Madre Teresa, Flávia Roza, acredita que colocar o paciente no centro do processo ajuda a compreender as ações que devem ser tomadas. “Todos os setores precisam ter suas atribuições muito bem definidas, como fortalecer a atenção primária, ter continuidade e integralidade, e promover qualidade, segurança e eficiência assistencial. Mas temos que entender que isso se dá em projetos enxutos, baseados em evidência”, detalhou.

Luiz Henrique Mota, diretor da Unidade Vergueiro do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, compartilhou a experiência de sua unidade, que não é porta aberta, e, por isso, depende de um encaminhamento do paciente para a operação, o que reflete em uma certa dependência das operadoras e dos profissionais médicos. Para o diretor, os hospitais precisam ser proativos no processo de transição do modelo. “Ou nós entendemos que está batendo na nossa porta uma mudança radical no sistema ou nós vamos ser atropelados por ela. Os hospitais precisam apresentar uma alternativa para o sistema”, concluiu.

Oscar, Hospital Márcio Cunha; Patrus, Hospital Sírio-Libanês; Flávia, Hospital Madre Teresa; e Mota, Oswaldo Cruz – Foto: Gustavo Rampini

Informação e tecnologia

A interoperabilidade tecnológica na saúde e o impacto da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) também foram discutidos. Para o diretor de Operação do Hospital Mater Dei, José Henrique Salvador, a nova lei traz uma necessidade de falar sobre governança digital não apenas na área da TI, entrando cada vez mais na estratégia da instituição. “São três itens principais de preocupação e maiores responsabilidades: governança digital, temos que pensar mais em arquiteturas de sistemas; a educação, ou seja, educar médicos, colaboradores e pacientes da importância de não vazar informações ou tratar dados sigilosos de forma responsável; e por último a questão da transparência, que fica mais evidente com essa lei”, explicou.

Já a gestora executiva e de Qualidade do Hospital Albert Sabin/MG, Lílian Carvalho, concordou que precisa envolver a governança: “a lei vai fazer com que as informações extrapolem o setor TI, indo para o jurídico, gestão médica, gestão de pessoas, entre outros”. E o diretor do Hospital Monte Sinai, José Mariano, alertou: “A interoperabilidade tecnológica tem que evoluir e funcionar em um ritmo muito maior do que a regulamentação”.

Vitor Ferreira, gerente de TI do Hospital Moinhos de Vento, contou que em sua instituição estão promovendo discussões abertas entre os principais fornecedores e uma comissão especial, sobre instrumentos que deixem o hospital mais seguro. “Entendemos que o problema da lei é o G [de geral], pois foram colocados no mesmo barco instituições de todos os portes e segmentos, sem considerar especificidades. Mas ainda tem uma questão de educação e conscientização que vai dominar o cenário antes da lei entrar em vigor”, concluiu.

Mariano, Hospital Monte Sinai; Lílian, Hospital Albert Sabin; Parrini, Comitê Científico Conahp 2019; Salvador, Hospital Mater Dei; e Ferreira, Hospital Moinhos de Vento – Foto: Gustavo Rampini

Futuros profissionais

Marcaram presença no evento quase 40 estudantes do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes), instituição referência em educação na sociedade capixaba. Para o diretor-executivo da Anahp, Marco Aurélio Ferreira, a participação dos futuros profissionais da área da saúde nesse tipo de discussão é extremamente relevante. “A entrega de valor na assistência dos pacientes é um tema muito importante para esses novos profissionais que estão em formação. A Anahp, como instituição que representa o setor, tem uma missão com o futuro da saúde no Brasil”.

O Seminário Pré-Conahp antecipa os principais temas que serão discutidos no maior congresso da área de saúde no Brasil, o Congresso Nacional de Hospitais Privados – Conahp 2019. Este ano, o evento acontecerá entre 26 e 28 de novembro, no Transamérica Expo Center em São Paulo (SP).

Estudantes do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes) marcaram presença no evento – Foto: Gustavo Rampini

 

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